Festival do Fazer: Revolução

Um chamado a uma Revolução Artesanal

Chegamos ao limite. As estruturas não nos representam, as notícias nos aterrorizam, os extremos (de excesso e de falta) nos sufocam. Parece que a pandemia nos mostrou o quanto nossas mãos estão atadas diante de questões de saúde, educação, segurança social, políticas públicas… É tempo de desatar nossas mãos e tecer redes para criar uma cultura afirmativa, que fortaleça e afirme a vida – incluindo múltiplas singularidades. 

 

Acreditamos num mundo feito com nossas mãos. Por isso, chamamos você a fazer também uma Revolução Artesanal.

Uma verdadeira revolução pede ruptura das estruturas, padrões e hierarquias. A revolução é um chamado ao novo; o artesanal é uma orientação para um modo de fazer que: convoca nossa genuína intenção e abertura a aprender fazendo, engaja nosso corpo (no manejo com ferramentas e materiais) e nossos afetos para o que há de humano em nós (individual e coletivamente); respeita nossas raízes artesãs e criativas; mobiliza-se pela micropolítica, pois valoriza o pequeno, o local e o autoral; fortalece os valores estético e ético como geradores dessa nova cultura afirmativa.

 

O fazer artesanal é revolucionário porque

fortalece o humano

Em vez de negar o sofrimento constitutivo de tudo o que existe, a cultura pode se dedicar a fortalecer o homem, tornando-o capaz de enfrentá-lo.” (Viviane Mosé)

Nós somos seres que pensam e criam. Resistimos com nosso potencial criativo e criador, que imagina e faz, dando sentido aos afetos e as histórias que vivemos. Podemos perceber, no fazer artesanal, o que vai se compondo dentro de cada um e também a partir de nós. 

A cultura do fazer manual nos lembra do que estamos fazendo aqui, e que algumas das tecnologias mais revolucionárias foram feitas e estão ao alcance de nossas mãos: a geração do fogo, a criação de objetos metálicos e de madeira, o tecer o que vestimos, a escrita… 

 

 subverte a lógica da aceleração

quando fazemos algo com as mãos, somos autores do nosso tempo.” (Michelle Prazeres)

O fazer com as mãos nos reconecta com ritmos aos quais nos desacostumamos: o ritmo do aprendizado pelo corpo, dos ciclos do fazer, da natureza e o tempo de construção e sustentação e o das coisas fora da nossa ilusão de controle. 

 

faz repensar como consumimos e ocupamos o mundo

O fazer artesanal é sistêmico: as mãos reacendem o tato (atualmente tão esterilizado, não só pelas necessárias prevenções sanitárias, mas pela primazia dos fazeres mentais e intelectuais) e os demais sentidos; a partir dos sentidos, voltamos a dar valor ao que criamos com as mãos, seja na vida cotidiana, seja na vida laboral; então questionamos o que é essencial, o que precisamos, o que consumimos e o que conservamos.

É assim que a cultura do fazer manual nos permite sair da lógica individualista e narcisista para cultivar uma lente sustentável, que olha também para o mundo, o que está à nossa volta e nosso impacto no mundo.

 

valoriza a união, a coletividade incluindo a singularidade

quando pensamos ser formiguinhas somos braçais e isolados, quando pensamos em bem comum como Formigueiros (podemos participar de vários e por quanto tempo for necessário) nossos esforços se tornam mais eficazes e não ficamos isolados até exaurir nossas forças.” (Marco Andreoni)

É neste movimento que nós da Revolução Artesanal desejamos unir os fazedores do Brasil (e, por que não, do mundo!) a ampliar a compreensão sobre nossa prática manual enquanto processo autoral ligado ao autodesenvolvimento e à transformação social.

 

A Revolução que convocamos acontece todos os dias, por aí e por aqui, por isso este ano queremos trazê-la a público no Festival do Fazer 2021.

Nossa celebração da cultura do fazer manual acontece anualmente desde abril de 2017, em São Paulo. Em 2021, queremos expandir esse eixo e abarcar os contornos do nosso Brasil! Estamos preparando uma programação que inclua você e cada pessoa fazedora e artesã de nosso país. Num modelo híbrido: com atividades on-line, em núcleos presenciais e também no seu lar, queremos promover e dar a ver a grande Revolução Artesanal que todos, juntos, somos capazes de realizar com nossas próprias mãos.

Venha revolucionar com a gente! Apoie o Festival e sua existência!

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Escrita artesanal por Carolina Messias com Ciça Costa e Bruno Andreoni

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!