Grandes responsabilidades despertam também grandes poderes

O artesanal como caminho para a humanidade reagir às mudanças climáticas

Elevação das temperaturas, aumento de fenômenos meteorológicos extremos, elevação do nível do mar e lista de mudanças irreversíveis na atmosfera, devido aos gases de efeito estufa da queima de combustíveis fósseis e de desmatamento… Se nós, humanos, somos os maiores responsáveis pelas extremas mudanças climáticas na Terra, como aponta o relatório de 2021 da ONU (IPCC), cabe a nós reagir e lutar para reduzir e evitar o agravamento do nosso impacto negativo. O chamado do título é inspirado numa fala da jovem ativista climática Clover Hogan no TEDxLondonWomen em fevereiro deste ano, fundadora da ONG Force of Nature, que busca mobilizar pessoas a agir, começando pela mudança de mentalidade. Ela diz:

Então, como saímos do desespero, da negação, para algo radicalmente diferente? Há uma citação no filme Homem-Aranha: “Com grande poder grandes responsabilidades”.  No entanto, e se o oposto for verdadeiro? E se fosse: “Com grandes responsabilidades vem um grande poder”?  Isso é algo que todos aqueles que se movem e agitam o mundo sabem que é verdade. (Hogan, 2021)

E nós queremos agitar o mundo – com as nossas próprias mãos. Reconhecemos que a mudança de que o mundo precisa é sistêmica e que não temos o controle de tudo. Não somos ingênuos com relação às estruturas econômicas, sociais e culturais que nos afetam e refletem diretamente neste presente e futuro ameaçadores anunciados pelos cientistas. Somos esperançosos, sim, no sentido de receber com consciência todas essas informações, refletir e agir: como podemos impactar positivamente o futuro a partir de agora?  

De forma artesanal e sustentável

Acreditamos no futuro feito à mão. Não como um conceito abstrato ou como um plano B. Vivemos a cultura artesanal e observamos, ao longo de nossa jornada na Revolução Artesanal até aqui, o quanto esse modo de pensar e atuar com o processo artesanal no Brasil nos leva a assumir diversos compromissos com a sustentabilidade, como objetivos ligados a:

  • Saúde e bem-estar: por meio do fazer artesanal, as pessoas despertam para seu potencial criativo e senso de realização com sentido.
  • Educação de qualidade: o artesanal nos reconecta com processos e experiências; move as pessoas do saber do conhecimento exclusivamente conteudista para o saber da experiência, que acontece quando se implica num fazer com as próprias mãos.
  • Cidades e Comunidades Sustentáveis
  • Consumo e produção responsáveis: o contato com os materiais e o tempo do fazer que o fazer artesanal traz move as pessoas a refletirem sobre seus hábitos de consumo e o impacto de suas escolhas diárias.
  • Indústria, inovação e infraestrutura: o universo artesanal tanto traz insights para pensar novas tecnologias quando podem ocupar espaços de forma criativa e afetiva, engajando o coletivo.
  • Trabalho decente e crescimento econômico: o mercado artesanal movimenta bilhões na economia brasileira, além de ser motor de desenvolvimento do turismo e de negócios ligados a entretenimento, lazer e cultura.
  • Parcerias e meios de implementação: o trabalho artesanal se fortalece em redes colaborativas, criativas que valorizam toda a cadeia produtiva, desde onde sai o material, passando pelos espaços em que é comercializado e como é a divulgação até seu destino.

São desses Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que vemos quem se dedica e quem investe no feito à mão cuidando hoje. Quanto mais nos organizarmos, reunirmos e articularmos em torno desses compromissos, mais poder teremos em promover mudanças positivas com o fazer artesanal. Qual o seu poder hoje? Em que/quem você tem investido: sua energia, seu tempo, seu dinheiro, sua escolha? A responsabilidade não é SÓ sua, mas TAMBÉM é sua. Contamos com você para seguir esta revolução artesanal.

Neste ano, de 20 a 23 de outubro acontecerá o Festival do Fazer – A Revolução é Artesanal. Queremos te contar que estamos fazendo o fechamento da programação e ele acontecerá num modelo híbrido: com atividades on-line, em núcleos presenciais e também no seu lar,

Festival do Fazer – Revolução

16 oficinas on-line com os mais diversos fazeres estão se organizando com muito carinho, preparando os encontros virtuais. Olha só o que estamos preparando para você: [fazeres de comer] granola, fogaccia sem glúten, [fazeres de arte] tintura da terra, encadernação, estamparia com carimbos, mandala, escrita, pintura e poesia (esta direto de Portugal), [fazer com fios] bordado sashiko, macramê, bordado em fotografia, tricô, feltro, [fazer com aromas] sabonete natural e [fazer com o corpo] numa oficina de corpo e movimento.

Nas oficinas em Pulsara (SP), os oficineiros estão preparando momentos de reencontro presencial, claro que com todos os protocolos… xilogravura, estêncil, tingimento vegetal, papercutting, kombucha.

No artesanato de tradição dois mestres artesão estarão com a gente tecendo fibras naturais e rendando a renda renascença.

Nas rodas de conversa, convidados muito especiais vão nos reconectar com o tato, o corpo, as mãos, para olharmos e falarmos desta casa corpo, lar, planeta que habitamos.

Tem ainda Vivências Criativas, Desafios Criativos e uma Ação Craft-Ativista para fechar o ano em um grande abraço.

Assim queremos promover e dar a ver a grande Revolução Artesanal que todos, juntos, somos capazes de realizar com nossas próprias mãos.

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Escrita artesanal por Carolina Messias, com Ciça Costa e Bruno Andreoni.

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!