Programa #2 :: T2 – O fazer manual e seus (en)cantos

Nas mãos o fazer da renda renascença, na voz os cantos de trabalho, no gesto e na prática ensinar, educar, valorizar histórias e tradições. Mulheres fortes vindas de diversos lugares do Brasil trazendo sua cultura e semeando saberes.

Lucilene Silva,  entre vários saberes e fazeres, é pesquisadora musical e coordenadora da Oca Escola Cultural, organização não governamental que desde 1996 realiza um trabalho direcionado às crianças, adolescentes, jovens e famílias a partir da Arte e Cultura Brasileira e também o berço das Rendeiras da Aldeia.

O grupo de artesãs, Rendeiras da Aldeia, nasceu em 2006 da alfabetização de mães e mulheres da comunidade da Aldeia de Carapicuíba que aos poucos vão trazendo seus saberes e cantos para a roda. Hoje os fazeres do coletivo mantêm vivo a tradição da renda renascença e os cantos de trabalho.

Aliane Silva (Rendeira) conta que Lucilene teve a ideia “… da gente fazer alguma coisa com as mãos e cantar algumas músicas que a gente cantava trabalhando” e Wilma (Mestra em renda renascença) começou  “… a ensinar as mães e agora começo a ensinar as crianças” junto com Dalva, Lucilene, Edivânia, Márcia, Fátima, Núbia…,  seguem cantando, trabalhando e cultivando o saber da renda renascença e cantos de trabalho.

No encontro com estas mulheres fica claro as pontes verdadeiras criadas entre gerações, entre lugares e culturas e daquilo que faz sentido para cada um onde o encontro acontece de forma verdadeira respeitando a singularidade de cada ser e o saber à serviço. “plantamos saberes e conhecimentos no lugar em que estamos”.

Conhecemos um pouco do processo da renda… primeiro desenha, copiar no papel  manteiga, costura em um plástico ou papel craft, coloca o lacê e começa a rendar. Depois de rendar, tira da almofaça, faz acabamento para depois lavar, passar, aplicar a goma e está pronta… simples assim 🙂

Uma conversa tão gostosa, fluida, verdadeira. Histórias de vida, saberes e fazeres… quanta beleza!

          “… continuar cantando tudo isso, principalmente pela beleza… tem muita coisa boa na modernidade que a gente vive e tem muitas coisas muito belas de outros tempos outras gerações que não precisamos esquecer delas.” (Lucilene Silva)

          “Eu não achava que eu tinha esta capacidade e isso a renda fez por mim… Nós começamos a acreditar na gente quando nós conseguimos fazer” (Marcia – Rendeira)

Felizes demais com este encontro de histórias de vida, cantos da roça, saberes e fazeres manuais. Reserve um tempo do seu dia para ouvir e se encontrar com estas mulheres.

Beijo grande!

. . .

Escrita artesanal por Ciça Costa com Bruno Andreoni
*Foto da capa por Rinaldo Matinucci

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!