Indo, voltando, afinal para onde estamos caminhando?

“caminho, penso, sou..
para tentar mudar alguma coisa”
(Cristiane Grando, em Caminantes)

Retomada é a palavra que vem sendo usada para anunciar retorno de atividades presenciais de setores que foram diretamente afetados pela pandemia desde o ano passado. Aparentemente, seguimos retomando, com esse gerúndio ainda sem previsão de terminar. Mas essa retomada em curso quer dizer que estamos indo, voltando, caminhando para qual direção?

Retomar significa recuperar, reconquistar, continuar algo que foi interrompido. Mas sabemos que voltar a circular nos ambientes e nos transportes hoje exige das pessoas uma série de novos protocolos, cuidados, escolhas e preocupações que antes não estavam presentes em nosso modo de viver. Sabemos também que há muitas pessoas que não tiveram escolha de trabalhar remotamente ou realizar o distanciamento preventivo desde o início da pandemia. Assistimos aos números de infectados crescer todos os dias. Então, que qualidade de retomada é essa?

Desigual. Incerta. Complexa.

Aqueles que estão retornando este ano para os ambientes de trabalho e para as escolas percebem o quanto os espaços laborais e de aprendizado estão assépticos com as prevenções necessárias. Nesse cenário, como nosso fazer se revela? É possível manifestar um fazer criativo e autoral num ambiente com mais regras do que as já existentes pré-pandemia? Se, por um lado, as restrições nos limitam, por outro, elas também nos impulsionam a inovar, a ser criativos e criadores desse novo jeito de viver e fazer que se apresenta.

Este novo tempo nos convida a ressignificar o que está em nossas mãos, olhar os caminhos percorridos até aqui para então oferecer algum chão firme para os pés seguirem a caminhada. É tempo de nos despertar para o que está ao nosso alcance diante de tudo isso. E nosso convite é despertar-se através de fazeres manuais. Porque a partir do fazer com nossas mãos, algo dentro de nós se move. No fazendo, nessa movência externa tão perto, algo dentro de nós vai se organizando e vamos nos dando conta de nossos espaços internos, de que há chão pra caminhar. O chão construído por nós.

 

O Despertar do Fazer(se)

Com as mediadoras-artesãs Ciça Costa e Melissa Machado

Quando: Em março, nos dias 2, 9, 16 e 23/3, das 14h30 às 17h

Investimento no percurso completo: R$ 280,00

Quer participar? Saiba mais e inscreva-se aqui

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Escrita artesanal por Carolina Messias com Ciça Costa e Bruno Andreoni

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!