O mundo que se cria através das mãos

Reacenda sua autoria por meio dos fazeres manuais

É comum pensarmos no campo da autoria ligado à arte da escrita, dos escritores que se debruçam sobre folhas em branco ou sobre um teclado conectado a uma tela iluminada à espera de palavras. Só que a escrita não é o único fazer manual através do qual a autoria se constrói – ela é também. Porque ser autor tem a ver com como a gente intervém na vida, assume a vida, imprime nossa humanidade com sentido nela.

Ser autor é reconhecer naquilo que a gente faz nossos próprios traços, de personalidade, de escolha. É se ver naquilo que a gente produziu e a partir disso coletar um pouco daquilo que somos.

Ampliamos o caminho de autoria quando o inserimos na cultura artesanal, que inclui tanto diversos fazeres manuais, sua história, sua prática, seus ritmos… Aqui na Revolução Artesanal oferecemos um processo para você reacender sua autoria por meio de alguns fazeres manuais. Um percurso criativo e provocativo de autoconhecimento por meio de técnicas artesanais e reflexões sobre como cada um de nós interage com essas técnicas.

É um convite a observar o que a gente é capaz de criar e o que vai descobrindo sobre a gente mesmo(a) nesse atrito com cada manualidade, nessa experiência única de contato com um fazer manual sem um para quê imediato. Como é tecer, esculpir, costurar, tingir, bordar sem a finalidade de ter um produto, uma encomenda ao outro, ao mercado? Ou seja, como é realizar cada uma dessas ações com foco no durante, no que te acontece e no que acontece com sua experimentação de cada técnica artesanal? Como é estar tão presente e implicado no que você cria através de suas mãos? É esta qualidade de olhar, fazer e sentir que o Caminho do Autor reacende em cada um de nós.

Para percorrer esse caminho de autoria através da cultura artesanal, Ciça e Bruno serão facilitadores dos encontros com cada uma destas técnicas, com reflexões e com o grupo:

Caderno: primeira etapa é criar a plataforma que vai sustentar as reflexões ao longo do caminho. Vamos costurar um caderno com intervenções singulares da linha do tempo de cada participante.

Tear: com a base pronta, podemos começar o caminho. O tear nos ensina como trilhá-lo através do urdume e da trama. No suporte, refletimos aonde queremos prender nossos fios, qual a característica dos fios que escolho nesta trama, o que sustenta este caminho e quando decido que ele termina, ou seja, quando corto o fio do tear?

Bordado: no caminhar, notamos nossas paisagens internas. Este é o encontro para observar que espaços internos nós temos, quais são nossas bordas, nosso espaço de criar e que desenho escolhemos criar.

Tingimento: o caminho de autoria é cheio de surpresas. Nem tudo que é planejado acontece, na oficina de tingimento entendemos que autoria não tem a ver com controle. Aqui a gente olha para o que e como planejamos, o quanto nos implicamos, como nos frustramos ou nos surpreendemos. Um fazer manual que nos ensina sobre viver o inusitado, o inesperado, a surpresa.

Carimbo: considerando o fator surpresas, agora podemos pensar em deixar nossa marca no mundo sem tanto apego ao resultado. Aqui aprendemos a esculpir um carimbo, lidando com a dinâmica entre luz e sombra, usando uma goiva, uma ferramenta de retirada de matéria, para poder deixar marcar a superfície que vai ser iluminada pela impressão. O que precisamos tirar para marcar nossa autoria?

Argila: a penúltima etapa do caminho do autor é dar forma a tudo que foi vivido no percurso. Vamos moldar argila para fazer um pote, um objeto de sustentação de algo novo. Neste ponto, observamos que formas queremos dar, entendemos a dinâmica de como moldar essa ideia, o quanto de água, de secura, de força e delicadeza precisamos investir para fazer essa ponte entre nosso corpo e a matéria do pote.

Projeto final: no sétimo e último encontro, cada participante é convidado a criar um projeto seu, com uma ou mais técnicas de sua preferência que narre como foi fazer, olhar para si mesmo(a) e o que surgiu de diferente em seu caminho singular de autoria.

Os encontros do Caminho do Autor são em grupo on-line, via sala virtual, com Ciça Costa e Bruno Andreoni, de 11 de fevereiro a 25 de março, sempre no horário das 19h às 21h30. Inscreva-se neste link, prepare os materiais que vamos utilizar durante as oficinas e venha reacender sua autoria conosco!

. . .

Escrita artesanal por Carolina Messias, com Ciça Costa e Bruno Andreoni.

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!