No fluxo do movimento da Revolução Artesanal

O que faz da Revolução Artesanal um movimento?

Há cinco anos desenhamos o Festival do Fazer e várias outras ações que juntas davam vida à Revolução Artesanal, por um mundo feito à mão.

Logo de início percebemos que as ações, os festivais, mini festivais, oficinas do fazer, caminho do autor, laboratório cores da floresta, projetos artesanais faziam parte de um movimento. Um princípio ativo mutante, que como algo vivo é um e muitos ao mesmo tempo, expressando suas diversas formas ao longo do tempo. Era a percepção e reconhecimento deste movimento que sustentava, dava forma e fazia as ações existirem e persistirem ecoando no tempo, mesmo após sua realização. As ações são momentos, expressões variadas da força viva que é o movimento da Revolução Artesanal.

A Revolução foi se revelando e nos ensinando as diversas possibilidades e formas de sua expressão. Como algo vivo, o movimento nos mostrou a necessidade e a possibilidade de fazer intervenções, publicações, ações virtuais, e-books, conteúdos diversos.

Neste momento em que os espaços físicos que geralmente definiam nosso fazer, ajudava a dar um contorno, promovia um convívio, não existem mais, o movimento, como algo vivo que é, pulsa, e como o curso de um rio, segue em fluxo, faz suas curvas reconhecendo os obstáculos e desafios.  Fluindo, expressa-se em nova forma. O fazer se desprende de contornos e referenciais conhecidos e surge a possibilidade de o re-conhecermos como nossa expressão de vida: o fazer que me faz. O contínuo processo de construção de si.

Agora temos a nós mesmos, e temos a qualidade da relação que estabelecemos com as coisas e as pessoas. É a qualidade da relação que me mantém conectado com os acontecimentos. As relações é o novo espaço que passamos a habitar. A noção de distância e localidade é substituída pela presença do afeto que sustenta relações, que magnetiza encontros entre pessoas afins.

O fazer volta a ser meu dia-a-dia, o acontecido dentro de casa, em novos espaços, de outras maneiras. O o que eu faço não é mais apenas sinônimo do meu trabalho, mas minha expressão no mundo, meu modo de ser e fazer, o que vivo em todos os espaços. O fazer aparece como um espaço de autonomia e liberdade para criar meu caminho. Torna-se necessário despertar para a construção e percepção desses novos espaços (internos e externos) que se apresentam e dos aprendizados que eles me oferecem.

O fazer manual é um microcosmos do fazer macro do caminho da vida. O momento do fazer é um portal de autoconhecimento, se experienciado com qualidade. Refletir é aprender a se ver no que faz e ver como você fez, como é seu fazer, que tipo de resultado gera, quais questionamentos surgem. Refletir é diferente de projetar, julgar, criticar, justificar.

Aprender a se acompanhar para saber de si, poder fazer escolhas, saber selecionar o que levar para seu caminho, sua estrada, seu fazer. E o que quer subtrair.

O processo de reflexão que o movimento da Revolução Artesanal sugere é para se conhecer e poder reconhecer o que o deixa vivo. O que vive no que eu faço? Onde vive o meu fazer e onde eu vivo no meu fazer? Aprender a me acompanhar para me construir em ato contínuo, isso é um fazer vivo. A vida acontece enquanto faço!

E neste momento, temos um convite a fazer: viver junto experiências para despertar as pessoas a viverem o que fazem.

Convidamos a todos para viverem: O despertar do fazer(se) – Encontros de um fazer que te faz. Um percurso de encontros on line, ao vivo, com fazeres manuais, trocas e construção de conhecimento.

Ao todo, serão quatro encontros. Cada encontro com uma provocação que desperta uma qualidade do fazer e convida para uma prática manual. Vamos juntos re-conhecer a maneira como percebemos nosso fazer e ganhar intimidade com o processo contínuo de construção de si que o fazer promove: autonomia e liberdade de criar o próprio caminho.  Um olhar para si e para o fazer manual.

Vamos juntos fazer e viver experiências para despertar, a cada um, seu mundo manifesto.

Para saber mais sobre os encontros e inscrições acesse aqui

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Escrita artesanal por Melissa Machado com Ciça Costa

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!