
O primeiro ímpeto de conexão nasce de dentro, de desejos internos.
O fazer manual mobiliza a elaboração de um dos desejos mais íntimos de conexão do ser humano: o de aceitação. Aceitar-se a si mesmo, aceitar o que acontece no percurso do fazer e aceitar o olhar do outro. A aceitação é leve e exigente ao mesmo tempo. Aceitar gera movimento: podemos errar um ponto da trama de um cachecol de tricô e incluir essa falha no percurso de criação, ou então podemos decidir desmanchar a peça e começar de novo. A leveza vem da simplicidade do “é assim, é isso” e da naturalidade do movimento de escolha a partir desse reconhecimento. Parece fácil, mas chegar ao “certo, é isso, então…” é complexo porque exige esforço de nós. Exige rendição.
Render-se diante do nosso fazer, da forma como ele acontece nos conduz ao estado de apreciação.
Apreciar o percurso e o resultado do fazer, qualquer que ele seja – recorda o amor fati de que fala Nietzsche. E com a apreciação também nasce o sentimento de autoria (“eu que fiz”), a força de se reconhecer no seu fazer.
Lembro a história de Ciça e sua mãe, mãe e filha bordando juntas os pedidos de um conjunto de panos de prato, sempre com figuras semelhantes que, ao final, compõem uma coleção. Antes de embalar para a entrega, Ciça colocava todos os panos sobre a mesa e apreciava a obra completa: “Que bonito que ficou!” – celebrando o resultado seu fazer.

Ressignificando Descartes: Eu me rendo, logo aceito. Apesar de reconhecer que essa equação de causa e consequência é mais complexa do que se escreve aqui, ela parece se aplicar, por exemplo, na forma como olhamos nossos erros e como recebemos o olhar do outro sobre nosso fazer. E aqui chegamos ao segundo desejo íntimo de conexão do ser humano: pertencimento.