A poesia resiste convocando nossa humanidade

“A arte inventa a realidade. […] A arte é feita porque a vida não basta.”
(Ferreira Gullar, em
Porque a vida não basta)

No repetido de nossa rotina, ela – a poesia – nos espreita a cada detalhe que passa despercebido. O que se repete acaba se automatizando, nosso cérebro economiza energia, mas corre o risco de amortecer nossos sentidos para o que se apresenta, para o novo, para o sutil. Disse o escritor que “no mais, mesmo, da mesmice sempre vem a novidade” (Guimarães Rosa), mas é preciso despertar nossa atenção para que está à volta, disponível todo o tempo. A poesia nos lembra de resistir a um modo de viver utilitário, que tantas vezes nos distancia de nosso potencial humano de criar sentido e de valorizar o que existe pelo seu valor em si.

No repentino do nosso cotidiano, a poesia pulsa e aparece. É nessa “hora da estrela” que nossas emoções entram em estado de emergência. Depois desse instante, a poesia nos convoca a pôr no papel tudo o que nos ultrapassou, tudo o que não coube na voz –  “Porque há direito ao grito. Então eu grito.” (A hora da estrela, p. 13). A poesia resiste onde há harmonia e onde há desencaixe. Ela é habilidade nossa de dar voz às feiuras e às belezas do vivido – é a voz do que vive em nós. 

Entre o que se repete e nossos repentes, podemos nos encontrar, nos reconhecer e nos dar as mãos com palavras. Para isso, estamos convidando todos a registrarem suas Cenas de um Fazer Poético: um convite a resistir através da poesia que você percebe no seu dia a dia. Por meio desse delicado ativismo, queremos compartilhar o que vive nestes tempos, o que permanece vivo em nosso fazer e o que intencionamos manter aceso em nossa humanidade: nossa habilidade de criar, fazer e viver poeticamente. 

Participe da série CENAS DE UM FAZER POÉTICO – um ativismo à beleza

Todos os dias nos relacionamos com coisas, objetos, elementos, cenas que muitas vezes nos passam despercebidos. Mas quando atentos, podemos reconhecer a beleza desse algo mundano, transformá-lo em poesia. Em meio a tempos desafiadores como estes, o que temos feito para, ativamente, nos encantarmos em nosso caminhar? 

Desta vez nosso convite é que as cenas de nosso dia a dia contem sobre o nosso fazer artesanal e que um cenário poético cheio de sentido, possa existir. Um olhar para despertar essa nossa habilidade – tão humana – de criar, produzir, fazer e viver poeticamente. Ou seja, sentir, se emocionar e ver o belo em relação ao que cada um vive e faz. 

Uma chamada criativa e colaborativa de cenas (imagens + textos) de nossos fazeres em processo no mundo.

Fotografe, registre, relate, escreva sobre uma cena, um momento, alguém… com suas palavras. Preencha o formulário com seus escritos e envie para nós. Todas as contribuições serão lidas. Em seguida, faremos uma curadoria com as principais cenas poéticas e vamos compor uma publicação em nosso site. Este é nosso memorial poético deste 2021.

Para saber mais sobre “Cenas de um fazer poético” acesse https://revolucaoartesanal.com.br/eventos/cenas-de-um-fazer-poetico/

Para participar e enviar suas cenas poéticas é só acesser o formulário no link https://forms.gle/u7rgmyS1hQjYmM5A6

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Escrita artesanal por Carolina Messias, com Ciça Costa e Bruno Andreoni.

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!