Nas cores da Floresta… a vida.

Essa história começa lá atrás quando em algum momento decidimos que não faríamos uma viajem para fora do Brasil sem antes conhecer a Amazônia.

Já conhecíamos Belém e arredores. Por lá passamos algumas vezes, mas faltava entrar na floresta mesmo. Queríamos ir para o Amazonas.

E assim foi. Primeiro fomos para o Solimões, floresta alagada, linda e depois fomos para o Rio Negro. Ah, o Rio Negro! Suas cores, seu calor, seus igarapés, suas comunidades, seu povo…

Este rio com suas águas negras, nos levou à comunidade do Tumbira e comunidades ao redor da reserva de desenvolvimento sustentável. Nessa comunidade seu povo nos acolheu e hoje, depois de algumas várias experiências por lá, construímos uma casinha oficina onde habitamos e moramos parte do tempo de nossas vidas.

Por lá, passamos a viver a floresta mais de perto nos descobrirmos em um ambiente em que a vida pulsa intensamente, onde tudo está interconectado, onde cada ser vivo depende e alimenta outro ser. Humanos, animais, árvores, pássaros, água, terra, seres encantados…. tudo vivo, em relação, cheio de vida.

Para conhecer a Amazônia é preciso ir até ela, estar nela,
descobri-la e nos descobrirmos naquele lugar.

Aos poucos habitamos esse espaço, percebemos seu tempo, seu ritmo… Os dias são longos, lentos, há uma leveza no ar e ao mesmo tempo, a natureza mostra toda sua força, potência, energia. Seu ritmo nos pede para acordar cedo, com a luz do sol. No meio do dia o calor é intenso, os pássaros, os insetos, a floresta se silenciam de tanto calor e o corpo pede para parar, repousar. No final da tarde, com a temperatura mais amena, um banho no rio é essencial para refrescar, recarregar, contemplar, agradecer. Com o chegar da noite, nos recolhemos e antes de dormir um olhar para o céu estrelado.

As cores da floresta nos encantam. Passamos então a observá-las de onde elas nascem, suas relações com a vida, com as emoções, com a cultura…

“[…] As cores nascem do encontro, do afeto, se tornam limites de formas.
Nascem pelos nossos olhos, pelas nossas mãos, e pela união da natureza, contexto e forma.
Cor é vida.”
(Glossário de uma Revolução)

Há alguns anos realizamos nessa comunidade o Laboratório Cores da Floresta. E, como em todo laboratório a proposta está em fazer experiências, pesquisar, descobrir, viver o processo [o caminho e o caminhar]… experienciar.

“Estar em um espaço de laboratório é permitir através do corpo – mente e alma – interligados,
uma possibilidade real de experimentação e de envolvimento contínuo com uma temática.
Um laboratório é um espaço criativo, construído para que a exploração aconteça dentro
dos limites da imaginação – desejo – e expertise do grupo ali presente nesta jornada curiosa.”
(Glossário de uma Revolução)

O nosso laboratório passa pelo aprendizado das plantas tintórias da floresta, aplicadas em tecidos por meio do tingimento vegetal. Um processo que vai da extração à cor, além é claro, de muitos encontros com pessoas, com a natureza, com os saberes e fazeres da cultura local.

O Lab Cor te convida a viver por uma semana em uma comunidade ribeira do Rio Negro, navegar em suas águas pelos igarapés e igapós, tomar banho de rio, caminhar por trilhas na floresta, saborear a culinária local, tecer com os artesãos da comunidade, conversar com os moradores, e também, conversar muito sobre o que sabemos, aprendemos e ensinamos com as histórias de vida.
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Em 2024, queremos estar em outras comunidades da RDS Rio Negro e, em parceria com a Poranduba Amazônia, realizaremos o Lab Cor da Floresta, de 14 a 20 de janeiro, na Comunidade Santa Helena do Inglês, hospedados na Pousada Vista Rio Negro.

A Poranduba, com Bruno Mangolini, que cuidará de fazer a conexão com os moradores da comunidade, estadia, alimentação, logística, passeios, é uma agência que, assim como nós, acredita que é no encontro entre pessoas, natureza, culturas e experiências autênticas e verdadeiras que as transformações possíveis acontecem.

Eu (Ciça) e Marco Andreoni, do Estúdio In Totum, e ativistas pelo movimento da Revolução Artesanal, estaremos atentos ao processo do fazer, de forma artesanal e manual. No processo de ver as cores nascerem na floresta, o fazer nos convida a despertar os verbos de ação: perceber, corpar, refletir, observar, imaginar, sentir…

Juntos, iremos descobrir o que as plantas tintórias da floresta Amazônica nos oferecem, seus tempos, suas cores em um ciclo completo da coleta, extração dos pigmentos vegetais, preparo do tecido, realização do tingimento e contemplação do resultado.

No silêncio do fazer, nossas mãos dão forma a nossos pensamentos, um momento de estar para e com si.
Observar-se e perceber-se no fazendo amplia as possibilidades de criação, organização,
mudança dos pensamentos, comportamentos e hábitos.
Tornar-se um ser artesanal é se colocar intencionalmente presente
para esse momento de aprendizado com nossos fazeres.
(
Dos fazeres que nos tornam seres artesanais :: Blog Revolução Artesanal)

Queremos muito te ver por lá, nesse encontro com a Amazônia.
Até breve!

LABORATÓRIO CORES DA FLORESTA
14 a 20 de janeiro de 2024
Comunidade Santa Helena do Inglês :: RDS Rio Negro – AM
Nº de vagas: de 6 a 8 pessoas

Inscrições aqui >>>

 

Curiosidade: O nome Poranduba tem origem no Nheengatu, a língua geral dos indígenas, e significa “histórias fantásticas”; refere-se aos contos, às fábulas, aos mitos que compõe, ainda hoje, o imaginário e a cultura dos povos da Amazônia. Significa também “relação”, “sentir”, “escutar”.

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Escrita Artesanal por Ciça Costa

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!