Dos fazeres que nos tornam seres artesanais

O que você mais faz no seu dia a dia? Qual é o seu fazer mais recorrente hoje? Você pode ter se lembrado de algo ligado ao trabalho, aos cuidados da própria casa, de alguém… Como você faz isso? Que habilidades você convoca para que essa atividade aconteça? Que partes do seu corpo físico precisam se mover para isso? Quais sentidos são ativados? E que emoções passam por você quando faz o que faz?

Essas são algumas perguntas para aguçar a memória dos fazeres que modificam nosso ser. Porque ser artesanal é se perceber no movimento do fazer. Claro que há espaço para automatismos, que economizam nossa energia e nos protegem de perigos iminentes. Mas aqui estamos falando de fazeres que nos lembram de nós mesmos, de nossa singularidade: os fazeres criativos que nos humanizam.

O fazer artesanal que afeta nosso ser é aquele que produz algo material enquanto constrói a nós mesmos. E isso só é potencializado quando estamos presentes para isso. É um fazer que ativa outras inteligências nossas para além do mental, integra o nosso corpo, nossas memórias, o que aprendemos fazendo o que fazemos. 

O fazer artesanal desenvolve a nossa sensibilidade para diversos tipos de relação. Com a matéria, através dos sentidos, especialmente o tato; com as pessoas, através das conversas; consigo, percebendo a dinâmica interna que abre espaços em nós por meio da experiência da ação.

O fazer artesanal é aquele que acontece do lado de fora e do lado de dentro da gente. Só que a gente ainda está mais acostumado a ver o “fora”: tecer, escrever, desenhar, talhar, tocar, ver, conversar… Nosso convite na Revolução Artesanal é despertar os verbos de ação que acontecem dentro de cada um de nós: perceber, corpar, refletir, imaginar, lembrar, sentir… incluindo também aquilo que não cabe nas palavras. Sabe aqueles momentos “não sei explicar, mas parece que algo aconteceu aqui”? Isso também nos compõe – e muito. E passam a acontecer com mais frequência quando damos atenção a isso.

O silêncio no fazer abre espaço para as mãos darem forma a nossos pensamentos, um momento de estar para e com si. Observar-se e perceber-se no fazendo amplia as possibilidades de criação, organização, mudança dos pensamentos, comportamentos e hábitos. Tornar-se um ser artesanal é se colocar intencionalmente presente para esse momento de aprendizado com nossos fazeres. Quando você  se percebe em dois lugares ao mesmo tempo: no que realiza (objeto/trabalho) e dentro de você.

 

Um convite…

Em janeiro de 2023 acontece mais uma edição do Laboratório Cores da Floresta, um momento para vivenciar a Floresta Amazônia. Para viver a Amazônia, precisamos estar abertos para receber e sentir tudo que a floresta nos dá. Para conhecer, compreender a Amazônia é preciso vivê-la!

Viver a Amazônia é viver a beleza da descoberta em respeito à natureza e aos saberes de todos os seres que ali habitam. É criar espaços para troca de conhecimento entre saberes e outros repertórios. É vivenciar o processo de ver as cores da floresta nascerem, nossa relação com a natureza e nossa capacidade humana de imaginar, criar, realizar.

O processo artesanal e manual permeia este fazer onde a experimentação nos permite ampliar e estimular o movimento de ser autor, de se perceber em um mundo em constante mudança e a partir daí promover possíveis transformações.

“O convite para conhecer as técnicas de tingimento pelas cores da floresta é a porta de entrada para uma vivência que une conhecimento, saberes e prática num cenário deslumbrante e de muitas descobertas. Estar na Amazônia para vivenciar a floresta, a natureza, a comunidade ribeirinha e as relações nutridas por este ecossistema, além de ser uma experiência reveladora, desperta os sentidos para a grandeza, a magia e a inteligência de um mundo natural, vivo e potente. 

É neste panorama que se desenvolve a metodologia sintetizada pelo Lab Cor. Ao longo de uma semana, a combinação de estudo, interação com a floresta, o convívio com a comunidade, a cultura local, os banhos de rio e os momentos de pura contemplação moldam a experiência que vai acontecendo a partir das oficinas e dos fazeres manuais. 

[…] O Lab Cor é vida, é inspiração, é transformação. É a possibilidade de estarmos juntos numa cadeia produtiva e criativa que interage e cuida das relações entre pessoas e todas as formas de vida. É uma chance de construir uma realidade com uma visão de mundo mais humana, ecológica, bela e justa. “ 

por Françoise Otondo, participante da última edição do Lab Cor

Artesanalmente, vamos ver a cor nascer e a beleza do processo de compreensão dos ciclos naturais e dos saberes locais e na relação entre os conhecimentos trocados entre os envolvidos. Vamos descobrir e nos decobrirmos na Floresta.

De 8 a 14 de janeiro de 2023
As inscrições estão abertas… acesse o link aqui >>>

Ou entre em contato pelo whatsapp 11 999738603 com Ciça. Vamos adorar te contar mais sobre a vivência

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Escrita artesanal por Carolina Messias com Ciça Costa

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!