Artesanal, um jeito de Ser e Celebrar a Vida!

No primeiro semestre de 2020 nos mudamos para as montanhas. Momentos de isolamento social de tudo e de todos. Em nós mesmos, muitas reflexões, muitos aprendizados.

Para as montanhas levamos nossa história, nosso trabalho, nossa revolução… nossa vida. Por ali nos questionamos, duvidamos do que estávamos fazendo, nos perguntamos qual o sentido do nosso fazer, por que, pra que… Sempre ouvimos falar que “o mundo não pode parar”, pois é…. ele [o mundo] parou.

Tivemos a oportunidade de pausar, olhar e refletir sobre o que fazemos a favor da vida, da humanidade, do meio ambiente… Pausar não significa parar. Diz de um lugar que chegamos e dali temos a oportunidade de olhar, refletir, escolher novos e outros caminhos. Nesta pausa, vimos muitas vidas humanas sofrer e muitas outras vidas reviver. A Natureza soberana que é, em muitos lugares, sem a interferência humana, se regenerou. E nós humanos, o que aprendemos?

Aprendemos a compartilhar nossa vida e nossos conhecimentos de outra forma. O universo virtual nos propiciou este aprendizado. Aprendemos que precisamos aprender a estar no mundo de outra forma. De um jeito em que a prioridade de tudo seja a vida nas suas mais diversas formas, seja a humanidade, sejamos nós.

Aos poucos, o mundo foi se abrindo e voltando ao tão desejado “normal”. Confesso que o desejo não era o de voltar, mas sim de seguir para além, sempre de onde estamos, contando com tudo que vivemos, aprendemos, para contribuir assim para a mudança, transformação e construção de mundos bons. E assim seguimos… Seguimos olhando para o que estamos fazendo hoje, para como estamos nos cuidando como indivíduos e como construção social, para o nosso fazer que novamente se conecta ao coletivo. Seguimos tecendo vida.

Chegamos no final de 2022 e olhando para esse ano, fazendo uma retrospectiva dos movimentos/ações realizadas. Estivemos no 3º Congresso de Artes Manuais na Academia, Participamos do Encontro Lixo Zero e do Dia Sem Pressa, com oficinas presenciais. Realizamos o Laboratório Cores da Floresta em julho e inspirados nesta vivência criamos e desenhamos o e-book De onde Nascem as Cores, um conteúdo rico com o olhar para a Amazônia, um jeito de fazer e ver as cores. E ainda, como fruto do Lab Cor, nasce o Projeto Auá com as camisetas vivas que contam mais sobre essa história. Participamos da Mega Artesanal com a curadoria das Rodas de Conversa na temática sobre o cuidado, autocuidado e processos criativos sustentáveis.

Ao longo deste ano, revisitamos muitos lugares e muitas conversas aconteceram com o olhar para o movimento da Revolução Artesanal… Qual o seu lugar no mundo. Para que e por que este movimento existe e se deveria continuar a existir. Quem faz a revolução. O Ser Artesanal de que tanto falamos e desejamos buscar como este ser que somos e fazemos. Este ser autor, autônomo, responsável por si e com olhar para o outro e para o mundo.

Não sei se sabemos responder a estes questionamentos. Sabemos, nesse movimento artesanal de uma revolução, que acreditamos e muito na busca de ser e estar inteiro, presente, vivo, olhando para si, para o outro, para a vida como um todo. Que sente e vive coexistindo com a natureza, com a vida humana. No ser que faz e é expressão de si. No ser que faz e aprende. No ser que aprende e ensina com seus movimentos, sua atitude, seu jeito de ser, estar e fazer a mudança social de que tanto precisamos para cultivar a vida no planeta Terra.

“O humano grandioso é aquele que dá continuidade à obra da natureza”
assim diz o pensamento oriental no I Ching (livro das mutações, Confúcio)

Continuamos nas Montanhas e também na Amazônia, e também na Metrópole e também no Litoral e onde mais pudermos chegar com essa revolução que nos move, com esse jeito artesanal de ser e estar no mundo, junto com você, ressignificando o viver, o sentido do que fazemos, abrindo espaços para nutrir as relações e como podemos efetivamente agir e cuidar da humanidade, do planeta, de todos nós em comunhão com a natureza, com a vida.

Para celebrar e fechar o ano, com muito carinho criamos, desenhamos, escrevemos o novo Calendário 2023 :: Glossário de uma Revolução. Para este novo ano que chega, novas palavras e seus significados artesanais. Novas ilustrações feitas à nanquim em papel, e depois digitalizadas e coloridas. Nova diagramação e finalização para impressão.

A cada ano, nosso glossário aumenta, ganha corpo e assim, no final de cada versão do calendário, vamos deixando esse conteúdo registrado. Vamos juntos criar vocabulário para essa revolução. Para fazer download acesse aqui >>>

Logo mais estaremos na Amazônia com o Lab Cor 2023. O grupo está lindo e com o passar dos dias na floresta vamos contando o que está acontecendo por lá.

Estamos aqui com o coração cheio de esperança para que o ano novo chegue e se faça artesanalmente bom para todos. Que venha 2023 e que seja lindo para todos nós!

Com carinho Ciça e Bruno

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Escrita artesanal por Ciça Costa com Bruno Andreoni

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!