… do que podemos fazer juntos
Às vezes, acreditamos naquela história do protagonista-artesão: aquele que fez, aconteceu e hoje é reconhecido e valorizado pelo seu trabalho artesanal. É uma narrativa bonita, que inspira e motiva, mas precisamos nos lembrar de que é apenas uma forma de contar a história, ou um ponto de vista da história. Às vezes, nos esquecemos de que para o protagonista ter a oportunidade de mostrar seu trabalho, há outros tantos personagens, cenários e materiais articulando junto aquele processo, desde os artífices que lhe ensinaram técnicas, a cadeia de produção, por onde passou as matérias-primas escolhida, a rede de divulgação e comercialização…
Precisamos nos lembrar de que somos autores-artesãos, de que, sim, é importante se apropriar do potencial criativo, valorar e valorizar nossa entrega singular pro mundo, cuidar do que, como indivíduo, estamos manifestando no mundo. E que um autor-artesão só faz revolução no coletivo. Porque a revolução escapa do controle do indivíduo. É conjunto, composição, é fazer junto.
É possível mudar a própria bolha como um protagonista-artesão, mas a gente só muda o mundo, ou só muda paradigmas, modos de pensar e fazer quando há um movimento coletivo.
Entendemos a Revolução Artesanal como movimento nesse sentido. A muitas mãos, propomos diversos caminhos para despertar o fazer artesanal, para ocupar espaços com o feito à mão, para celebrar a cultura artesanal brasileira. Questionamos: o que o fazer artesanal pode gerar? que mudanças pode provocar no nível individual, econômico, social, ambiental? e o que fazer junto move no mundo?
Nossa primeira proposta de fazer junto este ano foi a composição da tag Auá de camisetas artesanais com impacto positivo. Produzida na comunidade do Tumbira, na Amazônia, as camisetas de algodão orgânico são tingidas artesanalmente com pigmentos extraídos de plantas da Floresta Amazônica, com muito do conhecimento dos nativos sobre as plantas tintórias. As ilustrações estampadas são inspiradas na cena da comunidade. Toda a verba arrecadada com as camisetas é dividida entre os envolvidos e custos de produção e uma parte é revertida ao fundo coletivo local.
Acreditamos nas relações que nosso fazer constrói e no que criamos para além de um produto artesanal. Acreditamos no conhecimento que é tecido com esse modo de fazer junto.
Este ano, intencionamos compor novos caminhos para fazeres artesanais coletivos. Queremos fazer a Revolução Artesanal junto, colaborativamente. Por que um movimento só se cria muitas mãos. Vem fazer junto?
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Escrita artesanal por Carolina Messias com Ciça Costa e Bruno Andreoni