Celebrar, aquietar, continuar

Nosso fazer e intenção para o mundo nesta virada de ciclo 21/22

Há palavras que dão contorno para aquilo que percebemos e criamos no mundo. Em alguns casos, elas não dão conta de expressar o que queremos, então juntamos mais de uma para construir algo que nós e os outros consigam entender. Só que sempre interpretamos essa construção com as tantas outras palavras e sentidos que nos habitam, muitas vezes, intangíveis. As palavras são as mãos que tentam tocar os sentidos.

Mas nem sempre é possível tocar as ideias, as histórias, os aprendizados, os encontros, as dores e os sabores com palavras. Talvez porque elas toquem muito superficialmente, não deem conta, estejam aquém do vivido ou, em outros casos, toquem muito fundo na alma – é quando elas ainda não cabem e é preciso esperar o corpo chegar nelas. Nosso corpo é sábio: sempre dá contorno e extravasa o que viveu. 

A gente viveu os últimos dois anos intensamente. 21 pegou carona no 20, amplificando o que esteve vivo em nós em meio a tantas escolhas, despedidas, reencontros. Que mundo criamos para estar aqui hoje? Em que mundo estamos em dezembro de 2021?

Não é à toa que Mundo é a palavra deste mês do nosso glossário de 2021. Para nos lembrar de que estamos conectados a esse universo maior do que nós e do tanto que ele nos afeta. 

“Todo o mundo cabe em uma pessoa e esse todo presente em cada um, quando manifestado, transforma e dá forma a um mundo novo. Aqui o universo pessoal e o mundo nascem da nossa mais infinita potência criativa de ser humano.”

Conectados a este mundo, nesta época, celebramos nossa retrospectiva de fazeres; vamos aquietar em recesso para nos nutrir, observar os movimentos feitos e refletir quais próximos passos podemos e queremos dar; e desejamos continuar realizando a revolução artesanal que nos convoca nesta rede que formamos aqui.

Celebrar: em 2021, seguimos nutrindo a cultura do fazer artesanal e manual por meio de oficinas, como o Caminho do Autor, o Despertar do Fazer(se) e o Grupo de Práticas manuais; Como um ativismo à beleza Cenas de um fazer Poético nos inspirou com um cenário poético e colaborativo; Histórias contadas por quem faz nos trouxe a Amazônia e os (en)cantos das Rendeiras da Aldeia no Programa Por Um Mundo Feito à Mão; o Festival do Fazer, realizado em formato inédito, híbrido, com mais de 30 eventos, mobilizando uma grande rede de artesãos, manualistas e facilitadores do fazer artesanal; e ampliamos nosso repertório de conteúdos autorais e artesanais em nosso blog, entrevistas sobre artesanias brasileiras, mergulhos em temas específicos da cultura do fazer manual na série Inspira e na Revista Mundo Manifesto #2

Aquietar: Nesse fechamento de ciclo vamos nos recolher e fortalecer, mantendo nosso ciclo vivo de recomeço em 2022.

Continuar: já reconhecemos o desafio que enfrentamos e de onde tiramos forças para continuar a cada ano que entra. Em 2022, intencionamos um caminho mais coletivo para criar o mundo que a gente quer. O fazer artesanal é resistência, não é distração ou alívio do cotidiano – ele já é a rotina de muitos! Artesanalmente e juntos podemos encarar o que precisa ser visto em nós e no mundo para então fazer escolhas e agir. Por isso, no novo ano queremos chamar você a fazer junto a Revolução Artesanal. Aceita o convite?

Como presente para este preparo de fim e início de ciclo, oferecemos o Calendário 2022 :: Glossário de uma Revolução. Um calendário criado, escrito, pintado e diagramado à mão, com novas palavras, para inspirar cada mês que virá. Baixe aqui gratuitamente. 

Desejamos a todos dias iluminados e de fazeres cheios de sentido.
Boas Festas! Feliz 2022!

Com carinho, Ciça e Bruno

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Escrita artesanal por Carolina Messias com Ciça Costa e Bruno Andreoni.

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!