Nossa arte e nossa entrega para o mundo

O que você manifesta para 2019?

É tempo de olhar para os rastros que deixamos em 2018, mirarmos 2019 chegando no horizonte e cuidarmos do tempo mais precioso de todos: o presente. Ao longo deste ano, promovemos diversas ações para ancorar esse tempo por meio da reflexão e do fazer artesanal. Para além do artesanATO, vivenciamos o potencial do artesanal-MANIFESTO, por meio de festivais do fazer, oficinas, nosso Caminho do Autor, bate-papos inspiradores na série “Por um mundo feito à mão”, escrita artesanal em nosso blog, participação em feiras e eventos…

Já defendemos que nosso fazer constrói relações. Falamos sobre o caminho que o fazer artesanal percorre em nós, da conexão interna, passando pela aceitação, pela rendição e pela apreciação para chegar à conexão com o outro. A conexão como trama e tessitura da vida foi tema deste episódio da série “Por um mundo feito à mão”, com Cristine Bartchewsky e Mayra Aiello, que encontraram no fazer artesanal com fios uma forma de alinhavar seus saberes ancestrais e suas histórias de vida a serviço de encontros terapêuticos por meio do crochê. Nesse bate-papo, emerge a questão de como tecemos o nosso ser por meio do fazer manual: seja em proporção, em alcance, em qualidade, em complexidade. O quanto o nosso fazer testemunha nosso momento presente e nossa evolução na linha da vida por meio de escolhas que fazemos de materiais, técnicas, formas (planas, tridimensionais), postura diante de erros no percurso…

Hoje queremos convidar à expansão do olhar do nosso fazer para o mundo. Qual a sua arte? A serviço de quê seus fazeres estão? E, sobretudo, o que sua arte em processo e em produto manifesta no mundo?

Arte não é só o produto exposto ao outro, na galeria, na vitrine, na casa… A nossa arte nasce da singularidade de nosso fazer, desde a ideação, passando por nossos afetos no percurso de produção até o momento de decisão “é isso!”, de colocá-la no mundo. Durante todo o processo artesanal, manifestamos ideias e emoções no mundo.  Manifestar é divulgar, tornar público, revelar, declarar. É tanto proclamar quanto oferecer sua visão de mundo e seus desejos, seus votos. É tornar concreta a expressão de sua potencialidade. Então, se sua arte pudesse ser traduzida em desejos seus para 2019, quais seriam eles? Fizemos nossos votos em forma de Artesanal-Manifesto:

Criatividade. Que toda forma de arte mantenha a camada autoral e criativa, sempre inspirada por outros fazeres feitos de humanos para humanos. Que possamos seguir inquietos para criar um mundo bom de se viver e pertencer. Acreditamos, como o escritor António Lobo Antunes, que “aquilo que faz com que nós continuemos vivos e capazes de criar é isso mesmo, uma inquietação constante.”

Aprendizado. Que possamos aprender sempre, com cada etapa da jornada, com suas dores e sabores. Que nosso fazer traga sempre o brilho da descoberta do aprendizado, de algo novo que possamos incluir no que fazemos. Aprender a “afinar-se como uma linhazinha para saber passar no furo de agulha que cada momento exige”, como diria Guimarães Rosa.

Qualidade. Sobretudo do olhar. Questionar e aprimorar continuamente a qualidade do que fazemos, de nossas emoções, do que consumimos… Que a expressão da qualidade em nosso fazer artesanal promova qualidade no mundo: na entrega do nosso fazer ao mundo, no que recebemos em troca, nas relações que se estabelecem.

Movimento. Acreditamos na arte viva, em fluxo, que troca de mãos, que promove sentido para além de nós, que leve histórias para inspirar outras pessoas… Que possamos nos mover com o fazer artesanal e tornar a arte movente.

Transformação. Que nossas artes promovam mudanças de forma. Que elas nos afetem na criação e produção e também promovam afetos em quem entrar em contato com elas.

Esses são alguns votos que a Revolução Artesanal deseja manifestar em 2019 por meio de produtos-arte e, sobretudo, por meio do que o fazer-arte gera em nós mesmos e no mundo. E você, já pensou no seu fazer como um Artesanal-Manifesto? Registre também como sua arte marca o mundo e o que você deseja ver no mundo com a entrega do seu fazer artesanal!

Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.” (Ariano Suassuna)

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!