É comum associarmos a palavra “revolução” à revolta, à luta de poderes e, portanto, à violência. Já “artesanal” parece ir na direção contrária, ligada à arte e à delicadeza do fazer manual. Os usos contemporâneos que causam certo ruído e estranhamento na junção dessas palavras se dissipam se olharmos para sua bagagem histórica, sua etimologia.
Revolução vem de revolutio/ revolvere (latim), substantivo e verbo ligado a “dar voltas”, “girar”. Dela derivam tanto as palavras “revolta” e “revólver” quanto o termo revolução enquanto movimento orbital em torno de um eixo, rotação – todas elas ligadas a movimento (seja contra um poder, seja o do tambor da arma, seja o dos astros). Já artesanal nasce em ars (latim), “habilidade natural ou adquirida” que vai ser ligada à questão estética e ao conceito de “arte” no séc. 17. De ars deriva artigiano, aquele que faz algo com as mãos. E se fôssemos dar mais passos atrás na história, encontraríamos a raiz de ars em ar, do indo-europeu, que significava unir. Com licença poética para ligar a bagagem etimológica de revolução e artesanal, nasceria, portanto: movimento de união.
O fazer manual é revolucionário porque valoriza a união, a coletividade incluindo a singularidade.
É neste movimento que nós da Revolução Artesanal desejamos unir os fazedores do Brasil (e, por que não, do mundo!) a ampliar a compreensão sobre nossa prática manual enquanto processo autoral ligado ao autodesenvolvimento e à transformação social.
Indo na contramão da revolução industrial, que inclui o ser humano como mais um componente na cadeia produtiva, a revolução artesanal inclui e valoriza esta qualidade essencialmente humana: o fazer – dando visibilidade à arte e à singularidade de cada artesão, de cada fazedor.
Venha se conectar com seu fazer e com outros fazedores no Minifestival do Fazer! No dia 6/10, você está convidado/a a vivenciar nove experiências do fazer manual. São 9 oficinas presenciais, em três locais em SP capital, para praticar e compartilhar experiências do fazer manual, por exemplo: produção de pão com fermentação natural e de mini horta, estamparia, tingimento, ecoprint e criação de objetos (luminária, bolsa de tricô, banqueta e caixa multiuso de madeira).
O fazer manual é revolucionário porque promove pausa.
“Vai lá e faz!” – é o que escutamos diariamente de várias bocas, inclusive a do nosso pensamento. “Aja (e com alta performance), entre em ação, não procrastine, saia passando o rolo compressor mesmo, faça e aconteça!” – quanto mais fazemos, mais cansamos; e quanto mais cansamos, mais nos obrigamos a fazer mais, melhor, otimizar; e quanto mais cansados estamos – “missão cumprida!” – mais satisfeitos de termos feito coisas. Coisas sem fôlego.
Precisamos de coisas com mais fôlego. De oxigênio para recuperá-lo. Para ativar e manter a nossa chama acesa. Com a luz desta chama e ânimo para seguir em movimento, acreditamos que podemos nos conectar com um tempo único para cada sujeito.
É no encontro com esse tempo, interno, processual, que começa a revolução. É nesta resistência sutil à lógica da pressa, da alta performance e da entrega de resultados que brotam pequenas mudanças internas, as quais, mais tarde, vão florescer em escolhas conscientes e congruentes com quem somos. E dessas flores nasce a possibilidade de polinização dessa revolução no mundo.
Como fazer parte da Revolução Artesanal?
Se você se conectou com a causa do “mundo feito à mão” com este olhar para o processo de dar forma a algo, com presença, autenticidade e aprendizado, a Revolução Artesanal já faz parte de você – o seu movimento no mundo já expressa sua revolução interna.
Fica, então, nosso convite para você nos ajudar a difundir a cultura do fazer manual, abrindo conosco caminhos possíveis de fazer, pensar e criar autoral: seja participando de nossas oficinas, eventos, mídias sociais, seja propondo projetos. O importante é estarmos em movimento #porummundofeitoàmão!
#escritaafetiva por Carolina Messias