Valorização do “artesanal”

Hoje em dia, o artesanal está em alta. Vemos isso, inclusive, em produtos de grandes marcas nas prateleiras de hipermercados: pães, cervejas, condimentos etc.

Dificilmente, essa produção foi realizada artesanalmente, de fato. Por isso, vamos resgatar o valor desse termo e compartilhar a visão da Revolução Artesanal sobre o assunto neste post.

Do que falamos quando falamos de artesanal!

O artesanal se difere pela forma de se relacionar com o fazer. Uma ação artesanal é a expressão da singularidade daquele artesão/fazedor.

Ex: os ferreiros que faziam espadas nas sociedades guerreiras produziam manualmente uma quantidade enorme de produtos numa linha de produção manual e o mesmo “ferreiro” no Japão produzia espadas com um grau de maestria que chegava a dar um nome para cada espada, beirando a arte.

Essa diferença entre processos de fazer manual com ou sem ajuda de máquinas onde o afastamento do artesão/fazedor do envolvimento com o fazer é a questão. No artesanal, todo o processo de criação e transformação da matéria em um objeto é de responsabilidade daquele que faz. Da escolha do barro ao pote acabado, assim os oleiros fazem sua arte. Aquela peça moldada por suas mãos conta sobre o seu autor.

Ao nos referirmos ao artesanal, hoje, estamos falando desse envolvimento com o processo do fazer em que a busca por dar forma, vida como criação àquilo que desejamos fazer/transformar se torna enriquecedor e motivador tanto em aspectos psicológicos quanto em sensações, os sentidos ficam despertos: o tato, olfato… e isto nos dias de hoje em que a distância física do mundo real com filtros, fortalece os sentidos da visão e audição (mídias: TV, Cel, Computadores), precisa ser reequilibrado.

O fazer manual, no processo artesanal, permite a experiência de promover essas sensações e buscar equilíbrio ao usarmos o corpo e mente integralmente para criar e realizar algo diferente de nos afastar, não se envolver com o processo/objeto ao automatizarmos processos e industrializarmos.

Para fazer grandes quantidades de um bem para vender em muitos locais, grandes mercados e com alta frequência, é preciso, em geral, automatizar algumas etapas, usando máquinas. Além disso, esse tipo de demanda exige, no geral, uma padronização e um processo produtivo. Isso, por si só, é contrário ao fazer artesanal, onde cada produto é único.  

O artesanal é um processo autêntico, que permite ao fazedor expressar seu poder de criação, de escolhas. Por outro lado, as máquinas realizam apenas atividades pré-estabelecidas. Essa diferença é crucial no resultado final de cada produção. O toque pessoal e autoral do artesanal é perdido no industrial.

Isso não significa que os produtos artesanais não possam ser comercializados em maior escala. É possível se aliar a cooperativas ou ter uma equipe de artesãos, por exemplo, para aumentar a produção. Porém, se o processo é, de fato, artesanal, ele irá caminhar de acordo com as limitações humanas.

Vale também mencionar que ao criar algo com as próprias mãos, vivenciando todo o processo, o fazedor passa a valorizar não só aquilo que ele mesmo produz, mas também a criação de outras pessoas.

Isso gera um ciclo de motivação, admiração e incentivo que engloba ofertas e demandas, em que fazedores e consumidores trocam de papel constantemente – dando e recebendo, aprendendo e ensinando, fornecendo e usufruindo.

A visão da Revolução Artesanal

A ideia desta iniciativa é difundir o fazer manual. Acreditamos que trabalhar com as próprias mãos diz de uma transformação pessoal, social e sustentável para o planeta.

É uma oportunidade de exercitar o poder de criação que todos nós temos, em um processo coletivo e individual, de autoconhecimento e crescimento.

Queremos valorizar e reunir sapateiros, ferreiros, padeiros, marceneiros, costureiros, pintores e todos os fazedores independentemente de um rótulo ou categoria.

Por isso, é tão importante resgatar o sentido do artesanal em sua forma profunda, natural e inerente ao ser humano – todo o fazer vai muito além do que objetos artesanais, as criações são uma forma de expressão infinita no mundo; são linguagens do ser.

É essencial que não percamos esse contato, essa troca, essa conexão com nós mesmos, com os demais seres e com a Terra – um vínculo que não é alcançado em processos impessoais, industriais e mecanizados.

No nosso blog, temos vários artigos que falam mais sobre o fazer artesanal e manual. Algumas sugestões de leitura:

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ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!