Entremeada ao caos e à tristeza que nos atravessam nestes tempos de pandemia, vem se tecendo uma rede de troca, cuidado e atenção. Se antes se dizia que o futuro seria feito à mão, estamos hoje vivendo num presente que nos convoca a exercer uma política do cuidado com as nossas próprias mãos.
Para além das paredes de nossas casas, em que estamos (re)aprendendo na pele os ciclos de fazeres laborais, do lar e da convivência, há muitas pessoas e iniciativas promovendo ações de impacto social e econômico de forma artesanal. Uma rede que tece o dar e o receber para que possamos cuidar uns dos outros, manter nossos fazeres vivos, ativar nossa criatividade, agir com foco no bem comum. Além dos artesãos profissionais, há muitas pessoas colocando suas mãos a serviço do cuidado do outro: costurando máscaras, tricotando cachecóis para o inverno, coletando e cozinhando alimentos, cuidando de resíduos, contribuindo financeiramente e construindo pontes entre quem pode doar e quem precisa receber. É nestes tempos difíceis que estamos reacendendo nossa humanidade.
Somos radicalmente dependentes. Nunca sentimos nossa vulnerabilidade de maneira tão evidente. A necessidade monumental de cuidado para que a humanidade continue a existir está diante de nós. (“Ética em tempos de peste”, Pedro Augusto Gravatá Nicoli e Regina Stela Corrêa Vieira)
Seja estendendo a mão, contribuindo com uma causa, ou botando a mão na massa, escolhendo um fazer para servir ao outro e ajudá-lo a manter saúde e dignidade, cuidamos não só do outro, mas de nós mesmos. Afinal, se o cuidado é artesanal, a rede não tem só uma via de direção, ela entrelaça nossos movimentos e afetos e diz de quem somos. Que fazer tem te ajudado a cuidar do outro artesanalmente?
Quando uma sociedade, um grupo, uma comunidade ou uma pessoa pede ajuda não só para receber, mas para ajudar o outro, ela se percebe como rede interdependente, articulando recursos e fazeres para promover não mais o bem e o sustento de um, mas o bem comum e a sustentabilidade do sistema. É desta forma que acontece uma revolução artesanal: fazer um movimento desse tipo com as próprias mãos, com um esforço de formiguinhas a formigueiros, cuidando de si e do outro envolve iniciativa, criatividade, autoria, doação e colaboração. Que este aprendizado da rede de cuidado artesanal permaneça em nossa forma de viver daqui por diante.
Escrita artesanal por Carolina Messias com Ciça Costa.