Sempre que fazemos algo, existe uma expectativa. É natural. Afinal, queremos ver, valorizar e compartilhar os nossos resultados. Porém, às vezes esquecemos que também é natural errar. Existe um tabu, um peso, um estigma ao redor das falhas que pode nos paralisar e nos impedir de experimentar, de tentar de novo.
O fazer manual é uma forma de vermos com mais leveza o processo de criar, de olhar com olhos mais gentis os erros e de experimentar sem medo.
Honrar os erros e comemorar os acertos
O fazer manual é um convite para criar, para encontrar dentro de si uma maneira própria de fazer, para vivenciar o momento presente sem a pressão — interna e externa — de “acertar”.
Quando vemos os erros como formas naturais de aprendizado, conseguimos honrá-los e sermos gratos por eles. As falhas nada mais são do que experiências, que nos mostram resultados diferentes do esperado.
Muitas vezes, é por meio das falhas que descobrimos novas possibilidades de criação e exploramos também nossas próprias características.
Uma participante da Oficina de macarrão na 3ª Edição do Festival do Fazer exemplifica muito bem essa vivência:
“Cheguei cansada, nervosa com o dia tenso e querendo fazer acontecer a oficina. Ao chegar, encontrei uma alegria imensa das meninas.
A primeira massa não deu certo, pensei: ‘Não vou fazer outra’. Mas isso não diz sobre mim… Se estou lá, quero fazer acontecer, tem uma sensação de que, se não fizer, estou fora. Não vou poder contar aquela história, ou melhor, não vou fazer a história.Me aquietei, pensei no meu jeito de fazer e como poderia fazer para dar certo a minha porção de macarrão. Lembrei da minha mãe fazendo e como fazíamos juntas os nossos alimentos.
Medi rigorosamente as farinhas. Tirei um pouco para ir acrescentando conforme minhas mãos sentiam a necessidade de mais farinha. Fui amassando a massa, trabalhando com ela, sentindo ela até chegar o ponto do macarrão. No final, não usei toda a farinha.
Após os 15 minutos de descanso, comecei a abrir a massa com ajuda da máquina e os cabelos compridos de macarrão começaram a sair. Preparamos o molho, cozinhamos a massa, sentamos à mesa e celebramos.
Brindamos às pessoas, ao alimento, ao momento de fazer junto de estar ali, trazendo a minha história, o que me faz sentido, o que é essencial para o meu caminhar.”
Aproveitar a caminhada, não só o destino
Além de nos libertar da visão limitadora e bloqueadora tradicional do erro, o fazer manual também nos ensina que o processo é tão importante quanto o resultado final.
Ter consciência de toda a jornada — suas escolhas, seus movimentos, suas sensações, as propriedades da matéria-prima etc. — é essencial para criar.
Isso também permite que cada etapa seja valorizada e apreciada, sem restringir o prazer da conquista apenas ao resultado.
Erros e acertos fazem parte de nossas vidas e é importante aceitá-los sem grande apego ou aversão a nenhum deles. Tudo é material e ferramenta para construirmos nossas vidas, nossas experiências, nossos saberes e nossos fazeres.
Você já passou por alguma experiência assim? Compartilhe conosco nos comentários!