O trabalho artesanal pode aliviar o estresse e ansiedade

Quando nos sentimos pressionados a sermos perfeitos, a seguirmos um padrão e a nos encaixar em modelos, é comum sofrermos com as frustrações de não conseguir atender a tantas exigências.

Ansiedade e estresse tornam-se, portanto, sintomas comuns da sociedade atual. Embora tenhamos diferentes formas de lidar com essas sensações, muitas vezes esquecemos que a solução pode estar, literalmente, em nossas mãos.

Trabalho artesanal, um lugar de construir e desconstruir

Quando crianças, usando nossa criatividade sem medo do certo e errado, lambuzamos os dedos de tinta, desenhamos seres fantásticos, colorimos fora das linhas, misturamos sabores e conversamos com amigos invisíveis. O medo da imperfeição ainda não está presente nessa fase da vida e o resultado final não é importante como o processo de criação.

Conforme crescemos, ficamos mais suscetíveis a pressões de pais, professores, amigos e de nós mesmos. Surgem sentimentos de competição com colegas e familiares, e acabamos nos cobrando o tempo todo pela perfeição. Ao começarmos a trabalhar, deparamo-nos com metas e não queremos decepcionar a equipe nem o chefe, por isso, esforçamo-nos para atender às expectativas de todos, com rapidez e eficácia.

Dentro de todo esse cenário, conseguimos enxergar algumas das causas de sintomas extremamente comuns da vida atual: estresse e ansiedade. Insônia, depressão, bloqueios emocionais, são algumas das consequências geradas por essas sensações.

Porém, assim como tudo isso é construído dentro de nós mesmos ao longo do tempo, temos também a capacidade de desconstruir essa condição. Para isso, podemos utilizar uma ferramenta poderosa e, muitas vezes, subestimada: nossas mãos.

O poder das mãos para fazer e ser

Muitos dizem que o trabalho manual é uma terapia. Ele nos conecta com a nossa capacidade de criar e com a nossa essência do ser. O “fazer” envolve o processo, o caminho que se trilha para gerar e dar forma a algo.

No entanto, o artesanal ensina também a apreciar a estrada – no tempo certo, com todos os seus obstáculos e suas belezas –, não apenas o destino final.

Podemos simplesmente ser, respirar, aproveitar o momento, aceitar as imperfeições e, claro, evoluir por meio da conexão com o nosso eu interior, deixando de lado as pressões externas constantes.

Mas como nossas mãos podem fazer tudo isso? Como o trabalho manual pode aliviar sintomas e trazer compreensão para curar certos problemas?

O primeiro ponto é o autoconhecimento. Da mesma forma que meditações, orações e práticas religiosas ou espirituais, a criação artesanal tem a capacidade de trazer à tona muito do nosso ser, da nossa personalidade, dos nossos medos, traumas, bloqueios bem como habilidades, qualidades e desejos.

Por exemplo, ao fazer uma peça de argila, podem surgir diversos questionamentos: “Será que tenho a capacidade de moldar o que quero?”, “E se não ficar parecido com o que imagino?”, “Tenho coragem de arriscar e fazer algo diferente?”, “E se eu errar, tenho a força de vontade de recomeçar?”, “O que as outras pessoas vão pensar do meu trabalho?”, “A opinião alheia tem o poder de mudar o que eu quero fazer?”, “O que é errar?”.

Ao se verem livres de imposições sociais, regras e crenças naquele momento único de criação, nossas mãos conseguem expressar o que muitas vezes não conseguimos falar com palavras.

Outras partes do nosso cérebro, do nosso coração e da nossa intuição abrem-se e ativam-se para mover nossas mãos. Conseguimos, então, descarregar muitas tensões, sentimentos e sensações acumuladas durante o processo artesanal.

Da mesma forma que em várias situações do dia a dia, nem sempre o trabalho manual acontece da forma que planejamos. O material pode ter um efeito diferente do esperado, a cor pode não ser exatamente aquela que pensamos, o tamanho pode ficar maior ou menor, o traço pode ficar torto.

Assim como nós e nossa vida, o trabalho tem suas imperfeições e nos mostra que não temos o controle de tudo. Ao observarmos isso enquanto criamos, ganhamos insights, confiança e resiliência, que podem ser aplicados em todas as áreas de nossas vidas.

Sendo assim, dedicar algumas horas por semana a uma atividade manual prazerosa e utilizar as mãos como instrumentos de criatividade podem fazer diferença na sua qualidade de vida.

É hora de sentir todo o poder das suas mãos! Para receber dicas e informações sobre trabalho artesanal, inscreva-se na nossa newsletter!

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!