Desde a última década, vem surgindo propostas de negócios com foco na troca, no compartilhamento e na inteligência da natureza. Os conceitos de economia colaborativa e economia circular ganham espaço com a profusão de iniciativas dentro de grandes empresas e de novos negócios.
A primeira, compartilhada, surge como resposta ao acúmulo e consumismo desenfreado, que geram problemas ambientais e sociais. Um resgate da prática de tribos e comunidades ancestrais que se ocupavam do bem comum, por meio da troca e da divisão de recursos. Exemplos dessa economia na prática são os inúmeros aplicativos que conectam pessoas e lhes permitem compartilhar ativos a baixo custo.
Já a economia circular coloca em questão nossa relação com o consumo, com as matérias-primas usadas na produção e o destino dos resíduos. Se a anterior coloca humanos em relação, esta olha para a relação do ser humano com o ambiente. Afinal, fazemos parte do ecossistema, não somos donos dele. É cada vez mais evidente que nossa prática linear de exploração de matérias-primas para produção e posterior descarte não pode se sustentar no tempo. Para mudar esse paradigma, a economia circular propõe uso de matéria-prima primária para produção e que, após o consumo humano, os resíduos sólidos possam se transformar em matéria-prima secundária, mantendo-a presente o maior tempo possível no ciclo de consumo. Assim, além de reduzir, reutilizar e reciclar, ela também propõe restaurar e regenerar, para que cada vez mais resíduos possam ser transformados em insumos.
De que forma os artesãos se inserem e podem impactar esta nova economia? Com menos trabalho de formiguinha, ou seja, com menos isolamento, e mais trabalho de formigueiros, com redes de compartilhamento, apoio e circulação de matérias-primas e insumos, como declara Marco Andreoni em Entrevista à Revista Urdume:
[…] quando pensamos ser formiguinhas somos braçais e isolados, quando pensamos em bem comum como Formigueiros (podemos participar de vários e por quanto tempo for necessário) nossos esforços se tornam mais eficazes e não ficamos isolados até exaurir nossas forças. Então é pensar as formas de colaboração que envolvam mais formigas num formigueiro comum. (Andreoni, Marco. Entrevista à Estela de Andrade, Revista Urdume)
Um dos grandes desafios dos artesãos é valorar suas criações, pois a forma de precificação é distinta da de um produto que tem claro o preço de mercado, como um celular ou uma televisão. No mercado artesanal, há o valor simbólico se soma ao valor funcional das obras criadas, e o valor simbólico pode estar ou não ligado ao custo de produção. Além disso, o valor do processo manual, ou seja, o trabalho manual, o tempo e a produção em baixa escala (ou em poucas unidades) também contam nessa equação para definir o valor final da criação. Nesse sentido, os empreendedores manuais se inserem também numa outra forma de economia: a criativa, que gera valor e produz riqueza a partir de bens e serviços criativos.
É interessante observar que a prática artesanal já atua nas frentes de economia compartilhada, promovendo trocas e redes de apoio; circular, buscando soluções criativas, responsáveis e respeitando a inteligência da natureza; e criativa, com alto valor intelectual, afetivo e simbólico. A chave para nos fortalecermos diante do desafio de gerar valor para o público parece estar na nossa própria prática, porém, de forma mais organizada e unida, e menos difusa e individual. Marco Andreoni aponta alguns caminhos nesse sentido:
*Associar- se (qualquer tipo arranjo de união) para que etapas do processo sejam distribuídas e feitas com mais precisão, qualidade e mantidas.
*Comunicar o processo. Acho que isso é a condição para se perceber valor: quem participa, como participa, como é feito, com que carinho se trabalha. Valor é dado pelas pessoas, quando se compreende os esforços, o envolvimento, honestidade de todas as pessoas envolvidas na transformação que leva ao produto de moda, o preço do produto que não é valor passa ser um detalhe.
*E-commerce: Investir em venda on-line e no Espaço de venda físico quando o tem, para ter uma experiência de compra viva. (Andreoni, Marco. Entrevista à Estela de Andrade, Revista Urdume)
Para nos associarmos, é preciso conhecer quem somos nós, artesãos contemporâneos, entender a diversidade de nossas escolhas e níveis de participação em outros círculos econômicos, incentivar contato entre diferentes artesãos, reunir grupos e empreendedores dispersos, promover trocas de saberes sobre nosso fazer, nossa entrega pro mundo e o impacto disso para a economia, a sociedade e o meio ambiente.
Que possamos nos fortalecer e ganhar espaço criando uma forma de economia artesanal com os 3Cs, colaborativa-circular-criativa, a fim de deixarmos de ser formiguinhas e atuarmos em formigueiros.
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Escrita artesanal por Carolina Messias com Ciça Costa, Bruno Andreoni, Marco Andreoni.