A arte de transformar, aliado ao consumo lento, artesanal e consciente

Nós, como sociedade, estamos falando cada vez mais sobre o consumo desenfreado e o impacto no meio ambiente. Mudanças climáticas, desmatamentos, espécies em extinção, tudo isso está ficando mais próximo da realidade urbana à qual a maioria de nós está acostumada.

Assim, começamos a questionar a origem dos produtos que consumimos, sua matéria-prima, seu descarte etc. Temos mais acesso às informações do mundo todo, e isso desperta nossa empatia, nossa compaixão e nossa responsabilidade.

O fazer artesanal está intimamente ligado a esse cenário, pois envolve uma forma de produção manual, que nos conecta tanto ao início do ciclo, com a seleção de materiais e ferramentas, até o seu final e o começo de um novo, com a reutilização de um produto descartado, ou “lixo”.

O consumo então, torna-se menor, mais lento e consciente.

Ressignificando seus objetos

O consumo consciente também envolve o descarte consciente. Já percebeu o tanto de resíduo que é gerado diariamente em nossas casas?

Além da coleta seletiva, separando o lixo entre orgânico e seco para que seja direcionado para os locais adequados, cada um de nós pode também ser parte ativa do processo de reinicialização do ciclo de um produto.

Existem diferentes formas de fazer isso:

1. Reciclagem

A reciclagem envolve estender o ciclo de vida de um objeto, por meio de diferentes tratamentos e processos. Por exemplo, a fabricação de tecido com garrafas PET.

No geral, a reciclagem envolve processos complexos, o uso de produtos químicos e altera a composição do produto original, não sendo possível reciclá-lo uma segunda vez.

2. Doação ou troca

Outra forma válida de ressignificação é a doação ou troca do seu objeto. Afinal, muitas vezes o produto ainda não chegou ao fim do seu ciclo, mas perdeu seu propósito para nossa vida. Isso é normal, pois estamos em constantes mudanças.

No entanto, em vez de descartar, podemos oferecê-lo para outra pessoa, que pode usá-lo em sua forma original ou usar sua criatividade para transformá-lo como quiser

3. Upcycling

A arte de criar a partir de algo que seria descartado.

O upcycling diferencia-se por ser o reaproveitamento de um objeto, mantendo suas propriedades originais e sem a necessidade de muitos recursos para transformá-lo em outro produto, não utilizando processos químicos e físicos da reciclagem.

Transformar algo que seria descartado em algo novo e diferente, com um novo uso e propósito evita o desperdício de materiais ainda úteis, reduzindo assim o consumo de novas matérias primas, consumo de energia, poluição do ar e água, resultantes de processos industriais da reciclagem.

O processo de transformar pede uma dedicação de tempo, pensar em possibilidades, criar e dar forma ao novo, fazendo de nós autores daquela peça feita com as nossas mãos.

A confecção de copos a partir de antigas garrafas de vinho é uma ideia de transformação de um objeto que seria descartado e que pode ser feito por você.

Consumo compartilhado

Além do descarte, é importante estarmos atentos também ao momento de aquisição de um produto. Muita coisa pode ser feita por nossas próprias mãos, o que amplia nossa consciência sobre o processo de produção e todos os recursos necessários para desenvolver uma única criação.

Algumas coisas precisamos ou queremos comprar já prontas. E não há problema nisso. Vale a pena considerar de quem você está comprando, sua origem, seus valores, seus cuidados etc.

Existe a opção do consumo compartilhado. Muitas pessoas se juntam e compram objetos que poderão ser usados por todos ou ainda um grupo troca informações para o empréstimo de produtos que não são usados tão frequentemente, como ferramentas, equipamentos de camping, mochilas e outros.

Embora ainda não seja muito comum, já podem ser encontradas iniciativas que incentivam essa prática, por meio de aplicativos para smartphones, redes sociais e grupos no WhatsApp.

Quer saber mais sobre práticas artesanais e consumo consciente? Assine nossa newsletter e acompanhe o blog da Revolução Artesanal!

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!