O fazer artesanal e a construção do nosso corpo gentil

O fazer artesanal nos traz uma qualidade singular de foco, atenção, presença. Uma qualidade que experimentamos e logo sabemos identificar. Fazer algo artesanalmente revela nosso corpo gentil. Estabelecer esse contato é o caminho para a construção de si.

Existe o olho que vê, e nós construímos o olhar. Existe o ouvido que ouve, e nós construímos a escuta. E tudo isso recai sobre o tato, por onde vamos construindo nossa sensibilidade. Posso tocar aquilo que concebo que existe, que enxergo e então posso ouvir seu som, e também ser tocado. Posso tocar e ser tocado na pele, que é o maior órgão do corpo. Posso tocar uma alma e sentir-me tocado na minha alma desperta, desse corpo gentil que vai aprendendo a se construir. Fazer-se humano, nos construir é sem dúvidas um fazer artesanal.

A gentileza diz de nossa sensibilidade. Percebemos a gentileza numa peça artesanal onde foi colocado ali um olhar, uma escuta e o tato do contato sensível. Reconhecemos um fazer artesanal em qualquer área quando o que é feito, é feito com sensibilidade, com gentileza.

No tempo, passamos a transpirar o que somos, somos pelos nossos poros, somos em tudo o que fazemos. E também sentimos, percebemos, observamos o mundo por nossa pele, o que adentra nossos limites começa a fazer parte de nós. Afetos também entram pelos poros de uma pele sensível ao que vive. E assim dizemos: “sei do que vocês está falando, eu senti na pele!”

Nossa pele tem muitas camadas, podemos escolher qual delas habitar. Dentre tantas possibilidades, podemos ter “casca grossa”, ou podemos querer aprender a sustentar a sensibilidade. Tocar e ser tocado. O que te toca?

Quando estamos num bordado, pintura, argila, os fazeres são infinitos, o manualizar do tato nos conecta imediatamente com um espaço interno para sentirmos o que estamos tocando. Não percebemos esta passagem, e quando nos damos conta, estamos com uma qualidade de atenção e captação de ideias e intuições diferente. Passamos nossa consciência para nosso corpo gentil, o que sente, o que percebe, e habitando nele, nos damos conta da potência deste corpo.

A repetição, o convite a ter as mãos presentes no que fazemos vai construindo essa nossa porção. Podemos agora saber que todo toque é um ato duplo: toco algo e sou tocado por isto na sensibilidade da minha percepção.

Este é sempre um convite. Não é uma regra, é questão de escolha, de querer.

A Revolução Artesanal nos faz esse convite: vem para o tato!

Vamos acordar nosso corpo gentil, o nosso corpo que anima nossa matéria, que dá sentido às nossas vidas. Vamos aprender a tocar, vamos conhecer por onde nossas mãos podem nos levar…!

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Escrita artesanal por Melissa Migliori com Revolução Artesanal

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!