Processos artesanais e a valorização do fazer à mão

Sabe quando você cria alguma coisa, como uma sobremesa para o almoço, por exemplo, e todos apreciam o prato, elogiam-no e você percebe a satisfação nos rostos dos convidados?

Além de encher qualquer um de orgulho, também encoraja novas experiências: você se sentirá motivado a testar novas receitas, ver vídeos e até fazer aulas de culinária.

A valorização dos processos artesanais – seja na criação de uma sobremesa quanto de uma escultura – é muito poderosa, tem impacto direto e profundo no criador, que colocou ali seus conhecimentos, suas habilidades, suas mãos, sua essência.

Processos artesanais ajudam a valorização das criações (e vice-versa)

Os processos artesanais envolvem e exigem muito do fazedor, pois a criação só depende dele.

Diferentemente das produções em série e industrializadas, em que uma máquina (ou mesmo um profissional) apenas repete determinados comandos e padrões, o fazer manual é fluido e mutável, assim como o ser humano.

É possível traçarmos duas linhas que se retroalimentam.

1. Os processos artesanais dão a oportunidade para exercer todo o seu poder de criação. Você pode usar suas mãos para experimentar, construir, expressar e comunicar. Para fazer isso, é inevitável que haja uma entrega do fazedor. Tanto o caminho percorrido quanto o resultado final sensibilizam o artífice para valorizar tanto as suas criações quanto as de outros.

Sendo assim, a própria forma de consumo acaba mudando, pois os artistas têm consciência dos recursos utilizados nas produções, sabem o potencial que há em itens descartados, têm um olhar sustentável para aquela obra realizada.

2. O caminho inverso também é verdade: a valorização das criações incentivam os processos artesanais. Como mencionamos na introdução deste post, ao receber apoio, há um encorajamento para continuar com os processos artesanais. E nem sempre é fácil mergulhar no universo do fazer à mão, pois envolve desafios que nem sempre são tão óbvios à primeira vista, como autodescoberta, reconhecimento de pontos fracos, desenvolvimento de pontos fortes e outros lugares sutis que somos tocados.

Como alguns mercados se beneficiaram com o desenvolvimento de produtos e peças artesanais

O mercado está em constante evolução, pois acompanha a sociedade. Com o esgotamento de recursos naturais, acúmulo de lixo e crises econômicas, o fazer manual ganha cada vez mais espaço dentro de diversos setores.

Os produtos artesanais atendem a essas preocupações e ainda garantem personalização, exclusividade e autenticidade, algo que as gerações atuais têm buscado, especialmente em um mundo tão cheio de informações.

Feiras e mercados locais, lojas colaborativas, coletivos de artesãos e negócios online são alguns dos exemplos de formatos de vendas que se destacam do mercado tradicional e industrial.

Aqui no Brasil, podemos citar alguns exemplos de iniciativas que trouxeram um diferencial para o mercado:

  • Tucum Brasil: comercializa a arte e o artesanato indígena de diferentes etnias. A ideia é conectar os povos urbanos com os chamados de “povos da floresta” e aliando tradição com contemporaneidade. As obras incluem artefatos de moda, utensílios, esculturas, cachimbos entre outros.
  • Re-roupa: o slogan “Roupa feita de roupa” resume em poucas palavras a ideia da marca. As peças são feitas com retalhos, finais de rolos de tecido e roupas defeituosas. Além disso, ainda há projetos sociais, oficinas, palestras e parcerias com outras empresas focando a questão do consumo e do reaproveitamento de resíduos.
  • Fellicia: objetos de decoração criados com fibras naturais. O artesanato é combinado com uma iniciativa social que capacita e ajuda artesãos do Sergipe.

Do artesanato a obras de arte: como é possível criar um modelo de trabalho sustentável e valorizado

Um ponto em comum entre as iniciativas citadas e muitas outras existentes é a preocupação não apenas com o processo artesanal e o resultado final, mas também com o envolvimento dos fazedores, artistas e artesãos.

Isso faz com que haja um desenvolvimento individual, capacitando-os profissional e pessoalmente.

Além disso, o foco não é apenas na produção de peças, mas também na disseminação da sustentabilidade e valorização do fazer manual, com oficinas, palestras e vários projetos para a comunidade.

Para despertar a consciência sobre novas formas de consumo e produção, é preciso expandir a percepção do que é uma obra.

Considerar a matéria-prima, seu caminho até chegar nas mãos dos artesãos, o processo de criação e, além disso, o valor imaterial por trás de cada peça: saberes ancestrais, tradição, tempo, essência individual, senso de comunidade etc.

Algumas iniciativas que valem a pena conhecer:

  •  Rosenbaum – a gente transforma: apresenta diferentes projetos que combinam design, arte e artesanato em diferentes partes do Brasil e do mundo.
  • Artesol – Artesanato solidário: ajuda na criação e estruturação de grupos produtivos e empreendimentos, oferece consultorias e promove oficinas, exposições etc.
  • Instituto-e: seu objetivo é criar uma rede de desenvolvimento sustentável, apoiando, conectando e disseminando grupos e práticas de sustentabilidade criativa.

O poder de criar um mundo sustentável está, literalmente, nas nossas mãos. Que tal saber mais sobre todo o potencial criador que você tem? Baixe o nosso eBook gratuito Por que trabalhar usando as mãos?

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!