O que ecoou nos encontros do Despertar do Fazer(se) e nas oficinas do Manifestar.
Escolher palavras para expressar o vivido é dar bordas e significado para a experiência. Em nossas oficinas do Despertar do Fazer(se) e do Manifestar, convidamos pessoas ao encontro consigo e com outros fazedores não com a finalidade de produzir um objeto artesanal, mas para compor um corpo artesanal junto com as ferramentas, os materiais e os diálogos. E quando esse corpo artesanal ganha essa qualidade viva e pulsante dentro de nós e junto conosco, ele pode ecoar um pouco de nós naquilo que a gente faz.
Aqui trazemos algumas vozes que despertaram e se manifestaram em nossas oficinas:
O Despertar do Fazer(se), por Melissa Machado
A internet é mais uma ferramenta que existe para servir ao homem, como tantas outras. Mas para que assim seja, é preciso questionar, conhecer, vivenciar, para fazer as suas traduções dos possíveis usos e criações. Caso contrário, seremos nós humanos domesticados pela máquina.
E foi de uma confluência de questionamentos que nasceu o Despertar do fazer(se) em 2020. Isolados do convencional, do habitual, tivemos espaço para nos questionar o que estava vivo naquele momento? A lista do que não estava era imensa. E o que vivia ali? O que vive em nós? O que estava vivo nos nossos fazeres (fora do normal?)
Ao perceber que o espaço tinha diminuído suas fronteiras, nos demos conta de que o tempo também. Nossa relação com o tempo mudou. Tivemos a oportunidade de perceber o tempo real para mim: como eu vivo o meu tempo, o que priorizo, o que faz sentido para mim…
Nossa relação com o espaço mudou. As restrições de circulação fora nos abriu as portas de nossos espaços por dentro. Questionamento, revisão de valores, angústias, descobertas, encontros e desencontros.
E onde o tempo e o espaço estavam se encontrando como novo? No on-line. E foi para lá que nós fomos experimentar nossas novas relações com o tempo e espaço compartilhando o chamado que para nós foi tão intenso: o que está vivo em você agora? O vive no seu fazer?
A sensação coletiva de que havíamos parado de fazer (por não fazer o que estávamos habituados a fazer de determinada forma), nos preocupou e quisemos propor espaços de encontro para que cada um despertasse o seu fazer. Reconhecer-se habitando em si e vivendo no seu fazer.
Esta é a reflexão que o fazer artesanal nos provoca, e que neste contexto foi tão intensa, percebida e importante. Apropriar-se de seu processo de construção de si, se fazendo ao fazer tudo o que faz.
Após duas edições de turmas incríveis do Despertar do fazer(se), tivemos certeza de que esse espaço veio para ficar. Neste novo tempo. Habitamos agora mais uma esfera de nossas relações, a do sem fronteiras, multiespacial e desperta!
Vozes do Manifestar, por participantes das oficinas
“Será que a gente consegue, pelas mãos, atribuir sentido a esse ano tão maluco que foi 2020?” Bruno Andreoni começou o manifestar com essa provocação e convocação dos sentidos e da percepção de como foi a caminhada de cada participante esse ano. A imaginação, a lembrança é um dos lugares em que nos damos conta do tanto que já manifestamos e do que estamos ainda manifestando no eco do vivido. Mas o restante do corpo também guarda notícias preciosas desse manifestar, no fazer artesanal, as mãos podem dar voz a essas histórias que ficam guardadas aonde a mente não alcança.
“[…] Mais do que falar do caderno, eu queria falar de que quando eu fiz a linha do tempo eu fiquei impactada com quanta coisa eu fiz esse ano, nesse espaço aqui virtual. […] O caderno se criou porque coisas apareceram, conforme a gente foi mexendo aqui, ele foi se construindo. […] Que oportunidade foi essa pra todos nós como humanidade, de estar em casa, ter que reconstruir relações, fazer outras e de outras formas e acho que seria importante para todos encerrar este ano e partir pro outro com essa bagagem. Meu caderno vai ser um memorial também.” (Nivea, participante da oficina de caderno inspirado).
“Na hora de fazer o caderno achei uma revista da academia, minha mãe é escritura, e encontrei um texto dela ‘Envelhescente’. Este é um caderno para ela, um caderno de memórias.” (Evelucia, participante da oficina de caderno inspirado)
“Eu queria muito um caderno para poder enxergar e colocar no papel todas as coisas gratificantes dentro de todas as perdas enormes deste ano, mas os ganhos.[…] que seja um caderno para escrever 2021 independente do que aconteça, preenchendo o meu caderno com muita vida” (Kika, participante da oficina de caderno inspirado).
“Meu caderno vai ser um memorial, pra que eu lembre que a base, o fundamento do amor vem de casa. O quanto é importante a gente se conectar para se conectar com o outro. E a minha última foto sou eu sozinha, para trazer a importância do indivíduo, mesmo fazendo parte do coletivo…” (Bia, participante da oficina de caderno inspirado).
“[…] Eu resolvi que esse ano merece usar tudo o que estava guardado e que não tinha coragem de usar.” (Julia, participante da oficina de caderno inspirado)
“Equivocadamente, a gente tem sempre no artesanato uma coisa ancestral, que vai só passando de geração em geração, que tem toda essa riqueza e toda essa força, mas como a gente pode revolucionar as nossas vidas através dos encontros, através do que cada um viveu no 2020 e fez a seu modo a sua revolução. O que nós estamos fazendo aqui neste momento é revolucionário para a minha pessoa […]. Eu fiquei muito feliz em ter encontrado vocês […].” (Norah, participante da oficina de caderno inspirado)
“Muito bom poder dedicar esse tempo, abrir espaço para poder experimentar, pra não colocar só a mão no álcool gel, pensar nessas coisas todas, e poder brincar, deixar a mão brincar.” (Taísa, participante da oficina de Tear Circular)
“Ter um tempinho pra gente. A gente fica tão dedicado a fazer tudo pra todo mundo, família, filhos, tudo, que às vezes a gente esquece um pouquinho da gente. Pra ser sincera, nesses meses todos de pandemia esse é o primeiro curso que consigo fazer. E não foi por falta de tentativa.” (Juliana, participante da oficina de carimbo)
“Essa maquininha de virar normal é muito estranha. Essa semana, se eu fosse um grande tabuleiro, eu voltei dez casas. Tem algo que precisa ser revisitado. De repente, parece que tudo vira normal. E não deveria.” (Grace, participante da oficina de carimbo)
“[No carimbo] saiu um martelinho. Eu fiz um T de Toca, mas saiu exatamente um martelinho. […] Eu tô numa fase de dar uma martelada simbólica em pessoas que não fazem bem. […] No meu momento, achei tão interessante, vou martelar – sem machucar, claro – pra quebrar esses vinculozinhos.” (Silvia, participante da oficina de carimbo)
O que se manifesta através de suas mãos? E o que você manifesta através delas? Que os ecos da potência artesanal reverberem em você que nos lê assim como reverberou nessas vozes que contam dos nossos encontros.
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Escrita artesanal por Carolina Messias e Melissa Machado, com Ciça Costa, Bruno Andreoni e os participantes das “Oficinas Despertar do Fazer(se)”, edições 1 e 2, e “Manifestar – o sentido de 2020 pelas mãos”.