Quando passamos por mudanças extremas, como as vividas este ano, as coisas parecem se desorganizar tanto externa quanto internamente. Podemos nos sentir desencaixados, desajustados, fragmentados, fora do eixo. Sabe quando a cabeça parece desconectada ou maior que o restante do corpo? Quando isso acontece, pensamos muito. Nos tornamos seres ruminadores de pensamentos, que são frutos de nossa voz misturada com milhares de outras vozes, de notícias, mensagens, conteúdos… Às vezes, esquecemos que a mente compõe nosso ser com o corpo, e que este não é mero recurso operacional para realizar aquilo que a mente pensa.
É tempo de despertar. Lembrar que há outros centros de inteligências além do mental que formam nosso corpo. Que corpo é esse? Quem faz?
Para isso, propomos reacender os sentidos, passando pelas esferas do sensorial, da reflexão e do fazer. Nosso olhar e prática do fazer artesanal busca provocar o que o fazer te faz. O foco não está no produto (o artesanato), mas na observação e presença do fazer que te faz humano, que nasce com nossas mãos – o fazer artesanal como estado de ser.
As mãos são ferramentas para dar existência ao campo do sutil: as artes, manualidades diversas, processos de cura. Isso por que o fazer artesanal nos ajuda a despertar o movimento que integra várias camadas e a reacender nossos sentidos: o ver que desenvolve o olhar; o ouvir que aprimora o escutar; o sentir que desperta o toque e a abertura para ser tocado, afetado pelo outro. É um fazer que te constrói, que produz e te produz. E esse aprendizado ganha uma outra qualidade quando acontece no encontro com o outro. O artesanal não precisa ser (e geralmente não é, em essência) um fazer solitário.
Na primeira edição do Despertar do Fazer(se), reunimos 10 mulheres nas dimensões da sala virtual e da sala de suas próprias casas em quatro encontros alinhavados com propostas artesanais. Trouxemos calor, afeto e vínculo para este meio virtual. Notamos que fazer este percurso em plena pandemia, cada uma de seu espaço íntimo de habitar potencializou a dinâmica dos sentidos para despertar em nós a força de estar inteira, integrando nossa presença nas esferas digital e física e em nossas múltiplas camadas corporais.
“Sempre vivi no meio da tecnologia reuniões, Skype… e o fato de trazer o manual via tecnologia me trouxe outra coisa, a possibilidade de juntar as duas coisas. Fica claro que é possível fazer o que antes era reservado para o universo corporativo, estamos juntas fazendo algo maravilhoso. Juntar isso em uma plataforma que dá para continuar. […] Fazer este processo em casa tem um ganho a mais, temos a possibilidade de mexer e remexer as coisas que temos em nosso espaço. É um mexer dentro, o despertar e dentro e fora. Nas bolsas vemos o estilo de cada uma, o que cada uma resolveu levar e mexer no aqui e agora.” (Bia, fazedora da primeira edição do Despertar do Fazer(se))
“A cada encontro uma surpresa, ir vivenciando cada encontro, em cada fala, pessoas de tantos lugares. Será que teria pessoas de tantos lugares se não estivéssemos em nossas casas, neste momento? Se estivéssemos em roda, talvez todas estivéssemos falando aqui neste espaço tem momentos de escuta, de fala, de respeito, de pausa… aguardar o outro. Ao falar posso dar vários insights no outro, porém todos estão me ouvindo, aguardando minha fala terminar para falar… A fala vem com mais propriedade. Tudo muito rico.” (Kika, fazedora da primeira edição do Despertar do Fazer(se))
“Pelo rio da vida percebi que o fazer artesanal sumiu da minha vida e foram os piores momentos. Agora na quarentena eu vejo que tenho que retomar. […] valeu muito a pena, estar aqui com vocês pois quero fazer o artesanal não na pegada de fonte de renda, mas sim que as pessoas percebam como faz bem. Não quero costurar para vender e, quando vejo o site da revolução, vejo que é possível entrar neste universo de uma outra maneira e não somente com o olhar para venda.” (Camila, fazedora da primeira edição do Despertar do Fazer(se))
Pela primeira vez, a Revolução Artesanal testou as fronteiras e as possibilidades do digital para conduzir um processo feito à mão. E encontramos uma riqueza de possibilidades que só seriam possíveis nesta qualidade de encontro:
- a diversidade geográfica e de vozes de fazedoras;
- a conexão com a intimidade do próprio fazer e do encontro de cada uma em seu lugar de habitar;
- a possibilidade de estar presente de seu lugar de conforto, com acesso livre a suas memórias, materiais, arquivos, ingredientes, ferramentas e recursos para compôr as atividades manuais propostas.
- o momento do fazer se integra a rotina de seu dia a dia
Esta é a beleza de fazer junto e a beleza do fazer em tudo que colocamos as mãos.
Você também pode despertar a força de estar inteiro/a com o fazer artesanal! Estamos abrindo as inscrições para a segunda edição do Despertar do Fazer(se), seguindo a experiência híbrida dos encontros no ambiente virtual ao vivo e do seu encontro com o seu fazer em seu lar, começando pela morada primeira: seu corpo.
Despertar do Fazer(se)
Início 2 de março
Os encontros acontecerão às terças-feiras das 14h30 às 17h
Mais informações e inscrições no link:
https://revolucaoartesanal.com.br/eventos/o-despertar-do-fazerse/
Escrita artesanal por Carolina Messias com Ciça Costa e Melissa Machado