primeira jornada – acreditar e agir
Projetos artesanais, sejam causas, movimentos ou mesmo uma linha de produtos, costumam encantar e até inspirar o outro com a possibilidade de um mundo possível feito com as próprias mãos. Os mesmos olhos encantados paulatinamente vão trocando o brilho das cores e da amplitude das possibilidades e passam a fazer cálculos desconfiados de que aquele universo é utópico e, portanto, irrealizável. Quem financia? Quem está por trás? Qual a origem e como se gera dinheiro neste projeto artesanal? Esta ideia é muito bonita, mas é sustentável?
Felizmente, aos poucos, estamos mudando o paradigma de sustentar relacionado exclusivamente ao valor econômico e revisitando a origem desse verbo, que é sustinere (latim), aguentar, apoiar, suportar. Aliada à etimologia, conceitos da Ecologia vão somando camadas de significado para esse conceito, por exemplo, desenvolvimento sustentável, que propõe o equilíbrio entre as áreas econômica, ecológica e social. Mesmo que nossa razão comece a entender a equação prosperidade econômica + consciência ecológica + responsabilidade social = futuro sustentável, nossa emoção ainda não se conforma com o mistério da geração de recursos financeiros, sobretudo para projetos artesanais.
A dúvida em torno do que sustenta a Revolução Artesanal, nosso movimento que valoriza a Cultura do Fazer Manual, e também o nosso Laboratório de Cores da Floresta, que desenvolvemos em co-laboração com a comunidade Tumbira (AM), foi um dos temas discutidos em dois eventos de que participamos recentemente. Em abril, na Semana Fashion Revolution, que aconteceu em abril em diversas cidades do mundo e foi promovida pelo IED (Istituto Europeo di Design) em São Paulo, pudemos compartilhar como o Laboratório de Cores se sustenta a partir dos próprios fazeres artesanais e troca de conhecimento. Em maio, estivemos na Semana de Artes da FAAP, em que pudemos conversar sobre como a Revolução Artesanal se sustenta pela energia e ação dos próprios fundadores do movimento em co-laboração com uma rede de parceiros que foi se tecendo pela conexão de cada um com seu fazer artesanal.
Acreditamos que o futuro é feito à mão. E esse acreditar nos fez percorrer o caminho da sustentabilidade dos projetos por meio das relações, da valorização da coletividade e da inclusão das singularidades e desta qualidade essencialmente humana: o fazer. É esse motor essencialmente humano e esse olhar para como nosso fazer impacta o ambiente e a sociedade que nos move a trabalhar e a gerar valor para que esse fazer continue vivo. A primeira jornada a ser cumprida para sustentar um projeto artesanal é acreditar muito e viver em ação contínua para tornar visível o que parece um mundo irreal.
Acreditar e agir é o começo do processo de sustentação de projetos artesanais como a Revolução Artesanal. A segunda jornada convoca à expansão, convoca o outro, seu olhar, seu engajamento e participação ativa. Que possamos dar este próximo passo juntos no próximo texto sobre esta nova jornada.
Escrita artesanal por Carolina Messias com Ciça Costa