Tempo, tecelão do fazer

Você é autor do seu tempo?

No seu dia-a-dia, você escolhe usar seu tempo para prioridades (suas) ou para urgências (que o mundo te apresenta)?

Já parou para pensar para o que você gostaria de dedicar mais tempo?

E para o que gostaria de empenhar menos tempo?

Esta é uma das provocações que me ocorreram quando os parceiros da Revolução Artesanal me convidaram para fazer esta reflexão sobre o tempo e o fazer manual.

E realizei que quando fazemos algo com as mãos, somos autores do nosso tempo. A autoria pressupõe que reconheçamos nosso ritmo (e que a partir dele, dialoguemos com o tempo do vir-a-ser produzido do que vamos colocar no mundo). A autoria manual pressupõe que nos conectemos com este ritmo e que assumamos sua singularidade. E que olhemos para este ritmo com um dos componentes fundamentais da produção do autor-fazedor artesanal.

Quando fazemos com as mãos, nos dedicando a algo do qual somos autores, o tempo encarna no que produzimos. O que produzimos é algo que nasce do tempo da criação, da reflexão, da dedicação, da mistura entre este tempo e os materiais que usamos, os pensamentos que nos ocorrem, os afetos que experimentamos enquanto fazemos.

Quando produzimos artesanalmente, conduzimos à existência como um todo orgânico e “produtificado” algo que só existia antes em fragmentos. E que agora está reunido em algo pela costura do tempo e das mãos.

Tempo e mãos costurando juntos constroem texturas de sentidos únicos. Existe ali, depois do processo de criação, um produto pra chamar de seu. Que não é escalável. É singular. E desfruta desta condição por ser de sua autoria.

Qual o tempo da autoria? O tempo da autoria é um tempo de conexão, de vínculo, de envolvimento, de comprometimento com o que está sendo criado. Um tempo de relação. O tempo do autor é o tempo do deixar-se mobilizar pelo seu objeto e do permitir-se conduzir por seu olhar, ao mesmo tempo em que reflete sobre este olhar.

Que olhar o autor lança para a sua criação? O olhar do tempo da presença, da atenção plena. O olhar do cuidado. O olhar do reconhecimento.

Em geral, quando somos autores e sujeitos de algo que colocamos no mundo, este fazer desperta sentimentos de afeição e carinho que retornam para o autor em forma de gratificação.

Esta sensação de que engrandecemos e enobrecemos quando somos autores pode estar fundamentada, entre outras coisas, no fato de que, quando somos autores, somos senhores do nosso tempo, no nosso ritmo.

Veja também os artigos Conecte-se com Você e Auto Conhecimento e Conexão Interna

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|| Michelle Prazeres, do Desacelera SP, escreveu este lindo texto sobre o tempo que nos é tão precioso e o quanto somos autores do nosso fazer. A Revolução Artesanal é parceira do Dia Sem Pressa | Slow Day: um evento de mobilização para uma vida simples e desacelerada na cidade de São Paulo.  que acontecerá no dia 22 de setembro. Estaremos participando da Estação do Fazer oferecendo oficinas do fazer manual. Veja o que preparamos para este Dia Sem Pressa | Estação do Fazer. ||

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!