Educação, linguagem e cultura

A escrita e a leitura de uma língua são algo de um povo, de uma cultura e que ganha cores, gestos e trejeitos de acordo com o contexto. É por isso que nossa língua portuguesa do Brasil é diferente de qualquer outra língua portuguesa presente no mundo. No nosso povo e no nosso dicionário aparecem palavras que somente possuem significado aqui, que nascem de misturas locais e povos diversos. Uma língua e a construção de uma linguagem social são a expressão de uma forma de cultura.

O aprendizado de uma língua está diretamente conectado ao nosso processo integral de desenvolvimento humano, ou seja, ao processo de ir crescendo e ficando maduro para esse aprender. Precisamos estar fisicamente, fisiologicamente, cognitivamente  e emocionalmente prontos para esse aprendizado, que começa logo na primeira infância e se formaliza nos primeiros anos do ensino fundamental. 

Na nossa primeira infância, aprendemos a ouvir e falar. Pouco se fala sobre aprender a ouvir, a decifrar os códigos e ondas sonoras. É somente assim, ouvindo,  que aprendemos a imitar o som. 

O nosso ouvido precisa estar maduro para escutar os diferentes sons das ondas sonoras, é por isso, por exemplo, que as crianças até 3 ou 4 anos ainda podem não falar o R, no meio da palavra, pois nosso ouvido ainda está em formação para perceber esse som. 

Ao mesmo tempo, a construção da linguagem também se dá por imitação (vale lembrar que o processo de aprendizado da primeira infância é pela imitação). Aprendemos os trejeitos e gestos, e jeitos de comunicação presentes em nossa cultura diária, presentes no código social daquela cidade, bairro e município. 

Ao final da primeira infância, perto dos 6 ou 7 anos, a criança passa a ter mais prontidão no ensino e aprendizagem, esses são os anos que chamamos de alfabetização, e essa dura pelo menos 3 anos para ser concluída. 

Alfabetizar é traduzir os sons que estão presentes na nossa linguagem, aqueles que ouvimos e falamos, em imagens, em escrita. Uma forma poética de compreender esse processo é que estamos criando memória fora do nosso corpo. Algo escrito para o mundo, em um caderno, pode ser compartilhado com todos. Antes disso, o processo de memória é somente individual. Por mais que algo que uma criança possa elaborar e nos contar, os sons possuem a mesma capacidade de serem assimilados individualmente por cada um de nós. 

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Escrita artesanal por Bruno Andreoni

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!