Para onde vou quando começo um fazer artesanal? A sensação é clara, algo muda… parece que paro de pensar, a mente se acalma, vem um bem estar, uma entrega, um envolvimento…em pouco tempo faz-se um silêncio. E a sensação que tenho é a de que a troca que acontece no silêncio me deixa no lugar que eu quero estar.
É muito comum trabalharmos diariamente com a racionalização e a intelectualização, o que chamamos de mente consciente. Seja para resolver um problema, para entender uma demanda, para atender alguma solicitação, para compreender um conteúdo. Estas duas atividades atuam como filtros fazendo uma leitura para estabelecer o que é real, o que existe e o que é a realidade. O hábito e o condicionamento dessa “mente consciente” ocultam e dificultam a percepção de nossos outros centros de inteligência, que também fazem suas leituras da realidade que incluem outras sensações, como uma sensação corporal prazerosa, pura e simplesmente.
O movimento, as práticas manuais acessam lugares do corpo onde a mente não consegue chegar. Ao fazer, deslocamos nosso centro de atenção para outra inteligência se expressar. A inteligência das mãos nos oferece outros conhecimentos. Refletir e compartilhar essa experiência prática nos ajuda a construir vocabulário para reconhecer outros estados de consciência e outros centros de percepção do corpo. O que a mente não reconhece não cataloga como real, para ela não existe.
As mãos são os olhos do escultor;
mas elas também são os órgãos para o pensamento.
Rainer Maria Rilke, Rodin, 2004
Nos trabalhos manuais estamos em contato direto com nossa energia criativa, com a percepção da inspiração, insights, intuição e outras movimentações. Essas são as matérias primas das mãos, por isso dizemos que as mãos tocam o sutil. O “mundo das mãos” é o do fazer que dá forma, que cria vida, que dá existência. O sutil em ação, ganhando uma utilidade. Essas são todas energias de padrão diferente da frequência mental. O trabalho é de expansão, circulação e expressão.
É muito gostoso se sentir, e então, queremos mais!
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Escrita artesanal por Melissa Migliori com Ciça Costa, Bruno Andreoni e Grupo de Práticas Manuais