Por uma Educação Integral

O que é um processo de educação senão o ideal de que nossas crianças, jovens e adultos, estejam o tempo todo imersos em um universo cuidado  de aprendizagem e conhecimento, onde nossas trocas pessoais sejam educativas e as nossas relações também se façam assim. 

Uma educação integral é o desejo de todos que um dia se preocuparam com esse processo para com seus filhos, sobrinhos, netos e, porque não, para si mesmo. Uma educação que consiga tanto olhar para o desenvolvimento cognitivo de letramento e lógica, assim como, consiga abraçar o desenvolvimento físico e as outras inteligências, sejam elas socioemocionais ou criativas. 

O pensamento por uma educação integral passa exatamente por esse olhar complexo e integral do desenvolvimento do ser humano. Complexo pois, não é somente por conteúdo que aprendemos, é também por vivências criativas e sociais, e é necessário que estejamos imersos neste olhar e que o ambiente escolar e social faça parte desta equação. 

Uma escola que cuida do seu ambiente social, das trocas entre alunos e do convívio, é um espaço que está exercitando esse olhar e realizando uma prática de educação integral. Uma escola que cuida do espaço para ter um ambiente com diversidade de atividades externas, como gramado para correr, árvore para subir e brinquedos para se movimentar, é um espaço que está preocupado com o desenvolvimento físico das crianças, adolescentes e jovens. E uma escola que garanta em seu currículo atividades criativas e artísticas, assim como filosóficas, é um espaço que cuida do desenvolvimento emocional e social. 

Esta fase da vida, dos 0 aos 21 anos, é o tempo em que mais desenvolvemos o nosso corpo físico e também a nossa habilidade emocional e cognitiva. A educação integral acontece quando o corpo pedagógico (professores e equipe da escola), alinhado com a presença dos pais, pode garantir que o conhecimento seja vivencial, e que práticas como o brincar livre, as vivências artísticas, as explorações com e na natureza aconteçam conciliadas a um olhar cuidadoso sobre o desenvolvimento de cada ser humano ali presente em convívio com outros. 

 

Ser Artesanal e o Processo de Aprendizado

Não é só pelas mãos que se expressam as artesanias. Ela é presente no ser humano integral, no sentir, querer e pensar. Exige maestria, vontade, curiosidade, destreza, e aprimorar a prática de se expressar no mundo como um ser único, um ser artesanal, moldado pela sua força de auto expressão – consciência e também pelo seu meio e contexto. 

Ser artesanal desafia a lógica linear, desafía o pensamento pragmático vigente de nossa sociedade. O processo da construção de uma prática, não é linear, não é planejável, ele é moldado e nasce como uma forma única a partir de um processo onde o aprender fazendo está inserido, onde o “erro” é tentativa de incorporar [trazer para o corpo o aprendizado]. E aqui, um ponto importante, o corpo, neste texto, precisa ser entendido como integral, ou seja, precisa expandir o conceito de corpo para além do físico, o corpo sente, fala, aprende, memoriza, pensa, escuta, absorve, transforma e expressa. 

Um aprendizado integral e artesanal passa pelo corpo, não passa somente pelo processo cognitivo racional do pensar, passa também pelo processo invisível e complexo do incorporar. Reflita você… quando um texto começa a ficar “estranho”, indigesto, não é o pensar racional que está te dando notícias deste aprendizado. Se formos para uma aula de um fazer artesanal, do uso das mãos com criatividade e criação, são as mãos que movem a matéria, e sensações ao longo do processo te darão notícias de suas conquistas e desafios, o tempo se altera [deixa de ser cronometrado] para a ser vivido, a sua concentração se aguça e então algo que era matéria ganha forma, se transforma pelo seu envolvimento inteiro. E essa forma é única, ela pode ser parecida com aquela que seu colega do lado fez, mas é única, pois foi feita por um ser único, você.

Se prestarmos atenção ao que foi vivido ao longo deste processo, não estaremos moldando somente a matéria, mas também a nós mesmo, e se formos além de uma aula, se transformamos isso em uma rotina, com certeza construiremos uma prática única de expressão daquela forma. 

Ao olharmos para o Ser humano com essa potência, como seres únicos, autorias, artesanais, fica fácil pensar que é assim a construção de qualquer prática de expressão própria, seja ele um artista, artesão ou seja ele um/a advogado/a, uma professor/a, ou um/a médico/a. Estamos aqui falando de pessoas que possam exercer o seu fazer profissional de forma alinhada a um jeito de viver a vida, que não é moldada somente pelo ambiente externo e suas regras, ou pensamentos, pressupostos e dados, e sim, a partir daquilo que vive e reverbera como verdade, sentimento e desejo que venha de dentro do próprio ser humano. 

Sejamos artesanais. Precisamos começar a olhar para nossa relação com o nosso fazer e expressar no dia a dia de nossas vidas. O que somos é a compreensão do universo que nos cerca e o que de único, singular, existe em cada um, traçando assim as relações vivas existentes no entre para a construção de mundo. 

Por uma educação integral e seres artesanais em nossa sociedade. 

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Escrita Artesanal por Bruno Andreoni | Fundador da Revolução Artesanal, Consultor educacional, Pai de Dora e Gael.

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!