O que fortalece o campo artesanal?
Um botão de flor é como um universo em expansão: o broto vai se abrindo e então recebe e reaje a todas as adversidades da natureza, potencializando a sua existência como planta.
Um universo em expansão precisa de espaço, de tempo, de nutrientes. No caso da flor, de terra, água, sais minerais, sol, vento e outras plantas ao redor.
O campo artesanal é um universo em constante movimento e desenvolvimento. Ele acontece dentro de cada ser humano que é capaz de produzir manualidades, criando assim novos mundos, produtos, design, soluções e jeitos de organizar e estruturar a sociedade.
Um campo de economia criativa
O valor do artesanal passa a ser percebido tanto como fonte de realização, pelo jeito de fazer, como também pelo jeito de consumir. Adquirir algo feito artesanalmente é ter em nossas mãos um produto carregado de sentido e de forma que são únicos a seu produtor, mas que ao mesmo tempo carregam história e jeitos próprios.
As mãos de artesãos e manualistas são capazes de criar novos produtos a partir de design de uso, de inteligência e da função utilitária e estética. A criatividade passa pelas mãos e a economia que essa atividade realiza é grande.
Na cidade de São Paulo, existem mais de 14 mil manualistas, pessoas que vivem de um fazer manual, seja ele totalmente responsável pela renda familiar ou parcial. Só nessa cidade em 2019 era possível encontrar pelo menos 25 eventos criativos por final de semana, uma proliferação de feiras artesanais e de formatos de comercialização e envolvimento cultural. O mesmo fenômeno se repetia em outros grandes municípios de importância econômica para regiões.
Em Recife (PE), o Centro de Artesanato reúne tanto exemplares de artes e artesanatos de muitos artesãos de suas cidades como também é responsável por realizar parte da distribuição e da venda. Dessa forma fomentam ações que fortalecem o setor com eventos e representações de artistas. O Centro de Artesanato de Pernambuco, faz parte do PAB – Programa de Artesanato Brasileiro, que realiza o cadastro dos artistas. Esse registro dá acesso a feiras e eventos nacionais e internacionais, além de conceder isenção de impostos, como ICMS, vagas em cursos formativos e outras ações.
Em São Paulo (SP), o Programa Mãos e Mentes Paulistanas, criado no final de 2016 e oficializado em 2019, pelo então Prefeito Bruno Covas através do decreto 58.676, 22/03/2019, é coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho em parceria com a Rede Asta e tem como base 3 frentes: o Credenciamento de artesãos e manualistas; qualificação através de cursos online sobre empreendedorismo e gestão de negócio para o segmento de artesanato, encontros e oficinas; Canais de vendas com feiras, eventos e quiosques oficiais. Essa política pública que considera o artesanal e manual como fonte de renda e que busca conhecer mais sobre o perfil dos produtores, e também a diversidade de seus produtos, também é capaz de ter uma escuta sobre os dilemas, dificuldades e oportunidades para impulsionar uma economia criativa feita à mão. Em sua maioria todos os cadastros são gratuitos e diferentes vantagens são acionadas de acordo com a diretriz do programa.
Procure o centro de artesanato de sua cidade ou estado, e busque saber o que ele pode ajudar a estruturar em seu fazer.
Um campo político
Nosso Brasil é um país diverso em sua população, vasto em extensão continental e rico em materiais e processos manuais. A riqueza de nossas artesanias brasileiras carece de estruturas e políticas públicas que sejam guardiãs desse nosso saber e modo de fazer singular (com a beleza de sua multiplicidade).
O PAB – Programa de Artesanato Brasileiro é uma dessas políticas importantes, que atuam no reconhecimento e valorização da produção artesanal como profissão e como produção econômica. O programa existe para que políticas públicas sejam desenvolvidas, ampliando o campo do artesanato e das manualidades. Desde seu último decreto, em 8/4/19, o PAB cuida dos seguintes eixos de trabalho: I- Fortalecimento do Artesão e do Artesanato Brasileiro; o acesso a mercado ; sistema de informações cadastrais do artesanato brasileiro (SICAB); e a qualificação e formação do artesão.
O sistema de cadastro é uma das ações mais importantes, pois inclui o reconhecimento de quem são (somos) os artesãos e manualistas brasileiros. Saber quem somos permite o desenvolvimento de ações focadas em nossas demandas locais e regionais. Compreendendo essas necessidades e desafios de cada canto do Brasil, é possível também impactar a formação dos artesãos, não necessariamente em relação a técnicas manuais, mas sim em ações que ajudem a estruturar um melhor modelo econômico, a viabilidade de venda, produção e comunicação. Uma formação que inclua modos de empreender no Brasil com o fazer artesanal.
O fortalecimento do campo artesanal envolve um delicado processo de valorização cultural afinado com o desenvolvimento econômico e uma cadeia sustentável entre artistas, materiais, espaços de comercialização e público. Para nós o futuro do campo artesanal é próspero enquanto se fortalecer no coletivo, na colaboração e integração.
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Escrita artesanal por – Bruno Andreoni