Celebrar o que seguimos aprendendo

… dos aprendimentos de 2020 

“[…] Estudara nos livros demais. Porém aprendia
melhor no ver, no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar. […]”
(“Aprendimentos”, de Manoel de Barros)

O fim das palavras e dos anos contam muito do sentido que se deu e de como eles derivaram. Para aprender, o poeta Manoel de Barros escolheu um sufixo incomum para ela, trazendo novos olhares na fronteira dos corriqueiros aprendizados e aprendizagens. Aprendimentos contam daquilo que desfaz saberes, que não está nos livros, nem no mundo racional. Está no sutil do dia a dia, no que aprendemos na cultura do viver, do sentir, do perceber.

Hoje queremos celebrar os aprendimentos da Revolução Artesanal em 2020.

Dentro de casa, reacendemos e/ou descobrimos alguns fazeres que a agitação e o automatismo da rotina não nos permitiam acessar. Conhecemos nosso ciclo de fazeres em e com a casa, olhamos com mais afeto para os espaços que ocupamos: sala, quarto de dormir, quarto que virou escritório, cozinha… Que memórias esses espaços dentro de casa contam do seu ano?

Em uma nova casa, organizamos nosso novo site, reescrevemos nosso artesanal-manifesto para que pudéssemos realmente mostrar o belo do fazer manual e ao mesmo tempo, permitir o mergulho e a navegação como forma de experiência. Nasce como celebração, Por um mundo feito em casa e suas manualidades como convite a todos caminharem por suas casas física e pessoal e refletirmos a partir do nossos fazeres como reveladores de nós mesmos.

Percebemos no “fazendo” a forma autoral do verbo. E com o artesanal em movimento colocamos nosso corpo em processo ativo, um convite a sair do mental e aprender a apreciar o atrito com o erro, o imperfeito, a frustração e a vulnerabilidade do próprio fazer. É no “fazendo” que somos autores de fato de nossas criações artesanais, enquanto o processo está em nossas mãos.

“É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.”

Dentro de tempos crônicos, escrevemos o que vivemos. Colhemos histórias do vivido por pessoas reais, que revelaram a si por meio do seu cotidiano no Crônicas do Fazendo.

Dentro de nossas cápsulas de memórias, convidamos abertamente as pessoas a registrarem seu tempo no intervalo de um ciclo de lua nova, em parceria com o artista visual e poeta Deco Adjiman, cuidamos da qualidade do nosso tempo, do fazer memórias e do olhar as memórias que se fazem no viver.

O mundo se manifesta a partir daquilo que criamos e damos forma.  Dentro de um Mundo Manifesto, artesãos do mundo e artesãos de si escreveram e relataram seus olhares e jeitos de fazer um mundo artesanal a partir de suas histórias, biografias, contos, crônicas.

Dentro do nosso presente, revisamos o caminhar e pudemos entrever o futuro que estamos criando hoje, agora, a partir deste instante. Com essa percepção, pudemos (talvez pela primeira vez) começar a refazer futuros.

E nesse refazimento, arrematamos um ciclo e começamos a alinhavar um novo! Este ano, entendemos que é com um tecido pronto que podemos começar um novo. O espaço do Estúdio In Totum, que abrigava a Revolução Artesanal entre paredes do nosso querido ateliê na Rua Tupi, alcançou horizontes mais verdes, naturais e, após uma pausa dinâmica e reflexiva, expandiu suas fronteiras para o universo on-line.

Dentro do mundo virtual, despertamos para a possibilidade de uso consciente da internet e como lugar capaz de promover encontros afetuosos, mesmo distantes de um contato físico. Pela primeira vez, a Revolução Artesanal abriu suas portas digitais para outros Estados brasileiros, indo além da cidade de São Paulo. Vivemos bonitos encontros em duas edições do Despertar do Fazer(se) (com Melissa Machado em parceria) e para fechar o ano, convidamos a todos a participarem do Manifestar um espaço para colocar nossas mãos em festa e a partir delas dar sentido ao ano que vivemos.

Nesse caminhar por 2020, cheio de desafios, tecemos juntos uma história inédita, artesanalmente e fechamos o ano com o coração cheio de alegria e esperança de cada vez mais ser possível um mundo feito a muitas mãos, feito por todos nós. No resultado de nossos aprendimentos surgiu um Calendário com Dicionário Artesanal, com as palavras que estiveram conosco e que desejamos levar para 2021. Este é nosso presente para você também celebrar seus aprendimentos, o tempo presente e a esperança por vir.

Para fazer o download do Calendário 2021 – o glossário de uma Revolução acesse aqui, depois é só imprimir.

Agradecendo nossos aprendimentos e celebrando a vida, sempre, desejamos a todos um mundo bom feito, artesanalmente, por todos nós. Viva a vida! E, até breve!!

Escrita artesanal por Carolina Messias com Ciça Costa e Bruno Andreoni

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!