É com um tecido pronto que podemos começar um novo

Sobre fim e início de ciclos

Por aqui, no blog, tecemos convites à reflexão com temas que nos encontram no presente. Escrevemos sobre o que estamos fazendo, vivendo e propondo ao mundo. Este espaço tem tecido um memorial da nossa Revolução Artesanal, de dentro pra fora e de fora pra dentro, no ritmo do pulso que cada ciclo convoca.

Alinhavando os textos mais recentes, vemos a trama do nosso ciclo atual: falamos sobre a potência da rede de cuidado artesanal, da importância das memórias que colhemos do presente, falamos de refazer futuros, olhando de perto para projetos engavetados e procuramos pela beleza no que se repete no cotidiano. É nessa tessitura que nos confortamos para encerrar um ciclo: o da casa-estúdio In Totum que habitamos na Rua Tupi, em São Paulo capital. Celebramos tantos pontos, cores e linhas bordando eventos, conversas, projetos, oficinas e realizações nos últimos anos nesse espaço! Bordar é enfeitar algo com o fazer singular de nossas mãos. É bonito arrematar um ciclo assim, com a frente e o avesso do bordado sem pontas soltas. E bordar também é beirar um caminho e encher algo até a borda. Encerrar um ciclo é perceber que algo está cheio antes de vazar.

“A gente é feito pra acabar
A gente é feito pra dizer
que sim
A gente é feito pra caber
no mar
E isso nunca vai ter fim” 

(Feito pra acabar, Marcelo Jeneci)

Há um luto no desfecho do feito no espaço do estúdio que se mistura com a demanda de organização, de mudança e de preparo da transição pro novo, que tanto nos estimula e inquieta: o que será? o que virá? Há um pulso diferente no espaço do entre o celebrar o feito e sonhar o desejado e o desconhecido. Mas é só com tecido pronto que podemos começar um novo. É esse tecido feito que nos aquece a escolher novas linhas e lugares para seguir tecendo nossa Revolução Artesanal. Estamos aquecidos e acolhidos com o calor das relações que construímos com nossos vizinhos na Rua Tupi e com quem também habitou nosso estúdio, no cotidiano e no fluxo dos convites e encontros.

Começamos a escrever mais um capítulo de nossas Crônicas do Fazendo. Estamos no pulso da gestação deste novo ciclo do estúdio, que espera para nascer em outros lugares do Brasil e do mundo, levando o tecido-memorial na mochila. Estamos esperançosos e acreditando no futuro que estamos fazendo, artesanalmente. E desejamos que você continue tecendo e fazendo a Revolução conosco!

Escrita artesanal por Carolina Messias com Ciça Costa e Bruno Andreoni

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!