Caminho do Autor: um caminho para a sustentabilidade

No dia 29 de julho deste ano, atingimos a sobrecarga da Terra. Isso significa que nós, humanos, esgotamos os recursos naturais do planeta para o ano de 2019 e, a partir dela, estamos usando recursos das próximas gerações. Como se sabe disso? A organização Global Footprint Network é a responsável por calcular o Dia da Sobrecarga, com base na Pegada Ecológica dos seres humanos no mundo. Que caminho é este que estamos trilhando e deixando essa pegada? O primeiro dia da sobrecarga da Terra foi calculado em dezembro de 1971. Nessa data, a população mundial havia usado 10 dias das gerações seguintes; neste ano, usaremos 155 dias!

É tempo de deixar de olhar para o próprio chão e voltar o olhar para o caminho que se percorre e que todos, como humanidade, percorremos.

Se você está lendo este texto agora, é sinal de que tem acesso à informação. Talvez você até já conheça alguns caminhos para apoiar o grande movimento em prol da sustentabilidade e redução da nossa pegada ecológica, consegue encontrar dados e novas forma de consumo, alimentação, gestão de resíduos, gestão de energia, economia circular etc. Temos cada vez mais informações, sabemos de muita coisa, mas o que nos afeta e nos move? Quais têm sido nossas atitudes?

“O sujeito da informação sabe muitas coisas, passa seu tempo buscando informação, o que mais o preocupa é não ter bastante informação; cada vez sabe mais, cada vez está melhor informado, porém, com essa obsessão pela informação e pelo saber (mas saber não no sentido de ‘sabedoria’, mas no sentido de ‘estar informado’), o que consegue é que nada lhe aconteça.” (Bondía, 2002, p. 22, grifo nosso).

Acreditamos que chegamos a este ponto justamente por termos valorizado por anos os sujeitos da informação, símbolos de poder, sucesso e liderança, e tornando cada vez mais raros os sujeitos da experiência, que se entregam e aprendem com o que acontece, permitindo que os saberes não passem diante de seus olhos, mas por seu corpo, promovendo afetos e transformações.

“Não um sujeito que permanece sempre em pé, ereto, erguido e seguro de si mesmo; não um sujeito que alcança aquilo que se propõe ou que se apodera daquilo que quer; não um sujeito definido por seus sucessos ou por seus poderes, mas um sujeito que perde seus poderes precisamente porque aquilo de que faz experiência dele se apodera.” (Bondía, 2002, p. 25, grifo nosso).

É tempo de coletar e cultivar experiências. É tempo de troca de saberes, de se comprometer com mudanças, de um fazer sustentável e ecológico. Como percorrer este caminho para a sustentabilidade? Acreditamos que antes ou paralelamente a uma expedição pelo mundo, é fundamental cuidar dos nossos caminhos internos, refletir sobre nosso fazer e nossa posição no mundo. Refletir sobre o próprio fazer e modo de ser não é uma atitude passiva, pelo contrário, é um modo mais consciente de atribuir sentido para nossas escolhas, de entrar em ação e de estabelecer uma relação potente consigo e com o mundo, sem exaurir seus recursos (próprios e os do planeta). Assim, deixamos de cumprir o papel de “usuários” e passamos a assumir o papel de “autores” do mundo que queremos viver e deixar para as próximas gerações. Por isso, acreditamos que o caminho da sustentabilidade é um caminho de entendimento do autor que somos, responsáveis pelas pegadas que deixamos em nossa obra chamada vida.

O Caminho do Autor é um percurso criativo de autoconhecimento que usa o fazer manual como ferramenta de desenvolvimento de sujeitos da experiência. Ao longo dos 8 encontros, os caminhantes são convidados a experienciar fazeres manuais escolhido pelos facilitadores Ciça Costa e Bruno Andreoni, que orientam o contato com as técnicas artesanais e incentivam reflexões únicas sobre nosso papel de autores (nossa história, valores, sentidos, escolhas…) em relação ao fazer que nasce de nossas próprias mãos. Venha experienciar o Caminho do Autor: uma forma singular, consciente, responsável e sustentável de impactar o mundo!

Escrita artesanal por Carolina Messias com Ciça Costa e Bruno Andreoni.

Referência bibliográfica
BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Trad. João Wanderley Geraldi. Revista Brasileira de Educação. n. 19. Jan/Fev/Mar/Abr, 2002. 20-28. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf>. Acesso em 8 ago. 2019.

Caminho do Autor

Encontros presenciais no Estúdio In Totum (Pacaembu – São Paulo/SP)
28/8, das 19h às 22h
4, 11, 12, 25/9, das 19h às 22h
2, 9, 23/10, das 19h às 22h

Todos os materiais inclusos. Inscreva-se!

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!