Caminho do Autor: um caminho de descoberta de si mesmo através do fazer manual

Experimentar-se é um ato de coragem. Tornar-se instrumento de múltiplos fazeres manuais é abrir espaço para descobertas, revelações e decepções. Encontrar-se consigo é corajosamente dar as mãos a si mesmo/a – no relato abaixo, Laura narra a riqueza de seu “autoencontro” por meio do laboratório com suas mãos no Caminho do Autor. 

Caminho do Autor: um caminho de descoberta de si mesmo através do fazer manual

O Caminho do Autor foi um presente que dei a mim mesma.

Estou em fase de transformação, de lapidação do meu Eu, de conexão com a minha essência e com meu fazer no mundo. 

O que vim fazer? 

Ainda não sei ao certo, mas esta jornada me permitiu confiar mais em mim mesma, em apreciar o que eu faço, em acolher meus erros e exercitar os canais coração-ação, coração-fala. 

Como fiandeira eu conto histórias e estórias para manter minhas raízes vivas! Busco tecer meu caminho em cores. Aprecio Eu por inteira e aprendo que tudo é possível, só depende das minhas escolhas. Acolho e honro cada passo, erros e acertos: tudo me trouxe a mim mesma. 

Como marceneira entendo a importância do ritmo! Gosto de formas arredondadas e para caber tudo que tenho para oferecer ao mundo a caixa precisa ser grande. Meu amor é infinito e sei que estou aqui para servir. Compreendo que meu tempo nem sempre é o tempo do outro e muitas vezes o tempo mais necessário é o tempo da espera. Existe a força do impulso, assim como existe a força da permanência e a força de sustentação. Tenho leveza e utilizo ferramentas que ajudam a me lapidar. Reconheço que tem hora que é preciso parar e tem hora que é preciso persistir. 

O maior cuidado é o de mim mesma, e também aprendo a me permitir ser cuidada pelo outro.

Como bordadeira tenho tempo de ir e vir! Me sinto criança e avó, me reconheço no todo. Seguindo meu ritmo de tempo me deixo fluir, cada nó um respirar. Meu destino é caminhar, seguir o fluxo lunar, deixar a serpente me guiar. Minha relação com o mundo é de cuidar, de servir, de agir com o coração. Completo-me em curvas, em cores, em diversidade… me respiro, me perdoo e honro minha arte de viver. Tenho fé no poder da mata, do mar, dos rios. Sou natureza e agirei com ela sempre. O bordar me destravou, me ajudou a ritmar minha vida. Cada nó a seu jeito compõe minha identidade. 

Percebo a importância de criar espaços e os rechear com o que realmente importa, com verdade na fala, na escuta, na ação. Tem tempo pra tudo. 

Como tingideira descubro! Tudo pode mudar no simples ato de respirar. É tudo dentro e fora. Os processos são espelhados: Eu e Você. A Alquimia permite que tudo se transforme e eu não tenho controle do resultado. Me manifesto e coloco minha intenção, e o resultado da interação não sei qual será. Viva a vida das surpresas que se apresenta a cada respirar.

Como carimbeira percebo que ainda não sei qual minha marca no mundo! Sinto angústia e desconcentração. A textura da borracha me incomodou. Percebo que também tenho dias de incômodo, de sono, de caos, de dor, de falta de vitalidade. Aprendo que dias ruins existirão assim como dias bons e que as vezes me recolher e respeitar meu espaço é fundamental. Aprendo a pedir colo. Aprendo a lidar com a luz e as sombras. Agir sem expectativa. Reconhecer meus limites. 

Momento de pausa, é chegada a Páscoa. Silêncio, cura, passagem.

Como argileira percebo que potes pequenos sabem uma leveza poderosa. Percebo que me desapegar é um exercício essencial. Preciso me tirar, me desapegar e me curar de mim mesma, para então me reconhecer pequena e forte. No meu pote cabe Eu. Eu vazia de apegos, Eu não identificada com padrões falsos, Eu tranquila. Aprendo que faço o que posso, sem querer abraçar o mundo e carregar mais do que minha força permite. Aprendo com a leveza e simplicidade da natureza e do fazer manual. 

Me vejo nos meus fazeres e como autora sou responsável pelo meu caminho! 

Gratidão!

Laura Candelaria de Mendonça Lima – 24 anos
São Paulo – SP, Brasil 

O Caminho do Autor é um processo experimental de autoconhecimento por meio de fazeres manuais. São 8 encontros consigo a partir das mãos e com o outro através de trocas de histórias e conexão com a arte humana de criar o mundo com as próprias mãos: encadernação, tear, marcenaria, bordado, tingimento, carimbo, argila e projeto autoral final. O convite para o próximo Caminho do Autor está aberto! Iniciaremos o novo percurso no dia 28 de agosto de 2019 (quarta-feira). Participe deste laboratório de si mesmo/a. Reserve seu lugar nesta jornada: https://www.revolucaoartesanal.com.br/o-caminho-do-autor/

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!