A arte que brota em cada traço

A revolução artesanal de Erika Brasil (Serei a Folha)

O que acontece quando a gente sabe nosso propósito, empreende nossa visão de mundo em nosso fazer, mas sofre para vender o que nasce de nossas mãos e encontra dificuldade para manter nossa sustentabilidade financeira e emocional? Erika Brasil, ilustradora e criadora da Serei a Folha, vivia esse conflito interno e enfrentava a exaustão física de tanto produzir – até que um encontro com a Revolução Artesanal virou a chave sobre seu fazer…

Erika é uma realizadora que se transforma. Foi bailarina clássica até os 21 anos, depois decidiu se tornar veterinária, formou-se e atuou na área por um tempo. Em meio às transformações profissionais, ela percebeu que estava desconectada de si mesma. Nesse processo de reconexão, ela resgatou o desenho e criou uma página no Instagram para compartilhar as histórias de seus desenhos e o processo que ela estava vivendo. Foi nesse canal que ela se reconheceu ilustradora como profissão e entendeu que era por meio da arte de contar histórias através de desenhos que estava transformando o mundo. Começou a participar de feiras e a entender vários fazeres artesanais dentro de si: seja na folha física ou digital, em paredes e objetos diversos.

Encontrou o fazer que a conecta consigo, que a transforma e sustenta. Serei a Folha se torna a união de todas as suas forças de execução: viver e trabalhar se misturam. Ela já não sabe o que é trabalho e o que é prazer. Parece que ela encontrou o espaço que todo artesão quer ocupar: sua arte é vista, apreciada e traz retorno financeiro. Mas havia um custo alto nessa conta: a cada venda ela sentia a dor de deixar ir seus originais a um valor muito inferior ao que valiam; a cada feira, a cada encomenda, ela era convocada a criar novos ou reproduzir seus desenhos numa velocidade e numa quantidade que só uma impressora daria conta. As folhas passaram a carregar seu brilho e sua exaustão.

Até que um dia ela foi convidada pelo namorado a acompanhar a gravação do primeiro episódio da série Por um mundo feito à mão. Ela não sabia, mas naquela manhã ela começaria sua revolução artesanal. Da conversa entre Ciça Costa, Bruno Andreoni, Bia Alcântara e Vivi Lavratti, sobre como o fazer manual transforma suas vidas, emerge a fala: “automatizar o fazer tira a vida do produto. Quem é criativo não quer criar a mesma coisa, colocar uma coisa de série é a pior coisa que pode ter pra gente”, ou seja, o artesão não pode escalar algo que não é escalonável, da ordem industrial. Era isto que Erika estava vivendo: tentando fazer uma linha de produção de algo que não tem escala, que nasce de suas mãos e de sua intuição.

O insight daquele encontro somado ao conselho sobre valorizar e não sucatear o seu fazer que Ciça e Bruno lhe deram em particular levou Erika às lágrimas – uma mistura de desespero e alívio. A partir daquele ponto, ela começou a buscar soluções para escanear e imprimir suas aquarelas, algo muito difícil de se fazer com qualidade.

Uma encomenda de estampas em aquarela para camisetas a levou à saga por diversas gráficas de fine art e estúdios de digitalização até chegar numa que realizasse o trabalho com o esmero que ela buscava imprimir em seus originais. Quando encontrou um estúdio que conseguia imprimir um produto que ela não conseguia diferenciar do original, ela soube que havia encontrado a solução para a dor de vender seus originais. Essa solução também trouxe um tempo de qualidade de programação e criação, já que não precisava mais criar todos os dias para ter volume para as feiras, nem reproduzir sua criação do zero para novas encomendas.

Foi a partir dessa conversa com a Revolução Artesanal que toda essa transformação aconteceu. Pra mim é como se eles fossem meus mentores a distância, porque me deram um puxão de orelha que transformou minha vida. A Serei a Folha só é o que ela é hoje por conta disso, por conta desse momento. Tenho muita gratidão porque foi muito transformador pra mim, enquanto pessoa e enquanto artista. Foi a partir daí que comecei a me sentir artista: eu sou, eu ilustro mesmo. Pra mim foi um processo de conexão comigo mesmo e de me posicionar em relação a algumas coisas.” – Erika Brasil, Serei a Folha.

A revolução artesanal de Erika começou quando ela se deu conta de seu lugar de artista, do cuidado que merecia ter consigo, com a sua saúde, e com o seu fazer, tanto na criação e produção de suas ilustrações quanto na entrega, zelando pela qualidade e pelos direitos de imagem. A digitalização de suas ilustrações trouxe de volta o espaço e o oxigênio necessário para fazer brotar sua criatividade, sua arte e seu ser em folha.

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Se você se conecta com o universo das ilustrações e das aquarelas e quer descobrir a arte que nasce de seu traço, a Erika Brasil dará uma Oficina de Ilustração Intuitiva no Festival do Fazer! O evento vai acontecer nos dias 7 e 8 de junho. Se você quiser mais informações sobre os horários das oficinas do fazer manual e toda a programação que estamos preparando para o Festival, entre em contato conosco: contato@revolucaoartesanal.com.br

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!