Brincando de abrir a “caixa preta” da faxina

Nossa casa é nossa causa, mas é também o nosso playground. Sempre me encanto ao visitar alguém e perceber como a casa reflete quem aquela pessoa é.

Há os colecionadores, os apaixonados por plantas, os decoradores, há os pet lovers e os que amam vinil. A casa é um espaço de autoria e de cuidar, onde expressamos nossa arte e nosso modo de vida.

Festival do Fazer – 3ª Edição

Agora olha a coincidência: o Festival do Fazer 2018 vai acontecer na mesma data da Semana Mundial do Brincar! Tudo bem, a semana é dedicada ao brincar infantil, mas podemos pensar que a Revolução Artesanal celebra o brincar adulto: a possibilidade de nos divertimos fazendo!

Acontece que fomos nos afastando dessa possibilidade.

Na minha família, por exemplo, são muitas as histórias de como as “nonnas” produziam o orecchiette, um macarrão parecido com uma orelhinha que se faz deslizando o indicador sobre a massa.

A mesa da cozinha ficava cheia deles! Era um ritual ligado aos encontros, à conversa, ao riso e a uma mesa onde crianças aprendiam e adultos praticavam. Muita farinha e carinho envolvidos!

A desculpa da falta de tempo

Podemos dizer que é falta de tempo, a eterna desculpa, mas por trás do abandono desse tipo de prática está, na verdade, a busca desenfreada pela praticidade. Afinal, se eu posso comprar o orecchiette no super, para quê me dar ao trabalho de produzi-lo?

E essa mesma atitude está por trás de muitos dos nossos problemas ambientais. Tudo vem embalado em plástico, papelão e outros materiais que têm alto impacto.

Além disso, utilizamos, sem nos darmos conta, substâncias que geram males inimagináveis. A espuma de um lava-roupas industrial, por exemplo, é tão forte que retira o revestimento das penas das aves aquáticas, impedindo que flutuem sobre rios e lagos.

E as substâncias que facilitam a retirada da sujeira, os chamados agentes sequestrantes, como o tripolifosfato de sódio, causam a proliferação de algas que intervém no equilíbrio natural dos nossos rios.

Trazendo a autoria de volta à nossa casa

Foi-se a autoria, ficaram os resíduos. E a gente mete o sabão na máquina achando que está tudo bem, tudo lindo.
No Festival do Fazer, a CasaCausa vai promover uma oficina de faxina ecológica!

Tanto eu como a Flávia Cunha viemos testando esse tipo de mudança em nossas casas com a ajuda das nossas funcionárias desde o ano passado.

Isso porque, no Brasil, muitas de nós ainda temos o luxo dessa forcinha na hora de cuidar da casa. Enfrentamos resistência? Claro.

Mas aí vem a surpresa e o prazer de ver aquela mistura que você fez no seu “momento bruxa” funcionando tão bem quanto o sapólio, o omo, o confort ou o que seja.

A economia não é monumental, mas em termos de impacto ambiental, faz uma grande diferença e a casa fica com o cheiro que a gente escolhe! É a nossa autoria, é a nossa casa.

E assim voltamos a ser um pouco como as “nonnas” e vamos abrindo as “caixas pretas” do que consumimos. Cuidamos da casa cuidando do ambiente: consciência com ação!

Na lavanderia, bicarbonato, sabão de coco, vinagre e limão, vão limpar quase tudo. Veja como ficou o “laboratório de faxina” na casa da Flávia.

Simples não? Então venha celebrar o fazer com a gente. O planeta agradece!

O Festival do Fazer – 3ª Edição contou com a oficina de Faxina Ecológica, acesse a galeria de fotos e veja como foi!

 

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!