Arte e Artesanato contemporâneo: quem são os artesãos de hoje

A ideia de que artesanato é “coisa de vó” está ficando no passado. É claro que os fazeres manuais permanecem firmes com as avós, que mantêm sua fama de grandes perpetuadoras de saberes ancestrais.

No entanto, o artesanato não está restrito ou preso a esse conceito atualmente e é cada vez mais comum observar jovens e adultos praticando atividades manuais. A combinação do tradicional com o moderno é o que gera o artesanato contemporâneo.

Artesanato contemporâneo: os fazedores da atualidade

Quando dizemos de um artesão contemporâneo, dizemos de pessoas que usam suas mãos, seus corpos, sua criatividade, sua essência para construir uma obra, utilizando técnicas, ferramentas e materiais tradicionais ou modernos, com uma visão fresca e atual. São pessoas que expressam o momento presente do mundo, honrando sua história e que muitas vezes vivem do seu fazer

Da mesma forma que somos todos plurais em relação a gosto, habilidades e estilos de vida, assim também são os artesãos atuais. Não há como identificá-los em apenas um grupo social, uma faixa etária ou uma região. Os fazeres artesanais são diversificados e caminham em uma ampla gama de setores, da gastronomia à marcenaria, e estão também em constante (re)construção.

É possível encontrar artesãos que reservam apenas algumas horas do dia ou da semana para praticar suas atividades manuais; há aqueles que têm no artesanato sua principal carreira e fonte de renda; existem outros que trabalham como voluntários em hospitais, orfanatos e asilos e praticam o fazer artesanal com os residentes e pacientes, usando as atividades manuais como forma de terapia; há jovens que aproveitam suas habilidades para financiar viagens pelo mundo; ou pessoas de baixa renda ou situação de vulnerabilidade social que encontram no artesanato uma forma de mudar de vida; e ainda pessoas, que por algum motivo que vem do fundo do coração, decidem sair de seus escritórios e/ou empresas para se dedicar ao fazer artesanal. como forma e jeito de seguir na vida com algo que lhes faça sentido.

Novas tendências entrelaçam o tradicional e o moderno. Com tantos recursos tecnológicos, ferramentas e facilidades, as formas de se expressar criativamente ampliaram. É possível combinar o uso do computador, impressoras 3D, projetores digitais com técnicas antigas de tapeçaria, marcenaria, desenho, escultura etc.

Aliança entre design e artesanato: peças requintadas com formas inovadoras combinadas com técnicas antigas. As peças de decoração são os exemplos mais comuns, como luminárias, cadeiras, organizadores etc. Um bom exemplo são cadeiras ou poltronas feitas com técnicas de cestaria de vime, tradicional em diversas regiões brasileiras, porém com um design arrojado, de diferentes formatos geométricos, cores modernas e acabamentos diferenciados.

Impressoras 3D e pinturas à mão: o planejamento e criação da estrutura é feita digitalmente, ganhando forma em uma impressora 3D. O acabamento e a finalização da peça é feita manualmente com diferentes técnicas artesanais.

Obras interculturais: com a facilidade da comunicação e troca entre culturas, principalmente pela Internet, o artesanato pode combinar diferentes saberes e fazeres do mundo todo.Uma peça de roupa que tenha uma modelagem ou elementos inspirados pela cultura brasileira,  produzida com a técnica do batik (tingimento feito com cera), originária da Indonésia, diz da união do tradicional e o contemporâneo.

O fazer manual estampado nos muros da cidade

Outra forma de criação manual muito presente nos dias de hoje é a arte urbana. O graffiti é um tipo de expressão artística encontrado principalmente nos muros e edifícios das cidades. Seu caráter temporário e amplamente acessível, visível para todos os transeuntes, faz do graffiti um tipo de arte que dialoga com o momento presente do local e do mundo.

Intervenções urbanas, como exposições de arte em locais inusitados ou apresentações relâmpago no meio do dia a dia da população, também podem ser uma forma de combinar os fazeres manuais com a visão moderna.

Onde encontrar os artesãos contemporâneos?

Feiras, bazares e festivais são ótimos locais para encontrar e conhecer artesãos. Desde feiras ou mercados locais, onde produtores de mel e geleia expõem seus trabalhos, por exemplo, até eventos maiores, que reúnem diversos fazedores de outras regiões, trazendo sua arte e artesanato local.

É cada vez mais comum ver jovens participando desse tipo de evento, estimulando o consumo consciente e inspirando as gerações a fazerem e investirem naquilo que faz sentido para cada um, despertando curiosidades, desejos e sonhos.

Em São Paulo, existem várias oportunidades de visibilidade para os artistas e artesãos exporem e venderem seus produtos. Ao longo do ano acontecem muitas feiras e bazares pela cidade. O Bazar As Meninas, Bazar da Praça, Feira Rosembaum, Jardim Secreto Fair, são alguns deste lugares para se descobrir.

Para aqueles que desejam colocar a mão na massa, exercer sua criatividade, descobrir habilidades, trocar conhecimentos e ter novas experiências, vem ai o Festival do Fazer, que acontecerá no final do mês de outubro, em São Paulo. Ficou interessado? Saiba mais e participe do Festival do Fazer da Revolução Artesanal!

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!