O feito a mão como caminho de desenvolvimento e “ser” humano

Seja para cumprimentar alguém, para enviar uma mensagem no celular, para fazer cafuné, para cozinhar, para pintar, para esculpir, para tecer: nossas mãos são instrumentos poderosos de criação, transformação, proteção, solidariedade e carinho.

Tudo aquilo que é feito a mão carrega, em si, uma história e um sentimento muito especiais.

Feito a mão: descobrindo habilidades manuais

É muito comum ouvir as pessoas dizendo que “não têm jeito para trabalhos manuais”. No entanto, essa afirmação é baseada, geralmente, em crenças criadas (e mantidas) pela própria pessoa, com base em comparações, experiências malsucedidas e opiniões alheias.

Como em qualquer área de habilidade, existem pessoas com mais facilidade, outras com menos e, para todas elas, desenvolvimento e prática são a base do caminho para dominar qualquer tipo de conhecimento.

Para encontrar nossas habilidades de artesão – que todos possuem – e saber as vertentes com as quais temos mais afinidade, é importante conhecer e explorar as diferentes opções de materiais e técnicas. Você pode descobrir-se um ótimo cozinheiro, um satisfeito marceneiro ou um criativo costureiro, por exemplo.

O fazer e ser artesanal envolve muito mais do que um resultado bem-feito. É uma experiência holística, feita por um ser humano, o que significa reunir sentimentos, sensações, histórias, pensamentos e imperfeições no processo ao gerar uma peça única.

Desenvolvimento do SER humano

Existe uma grande satisfação e crescimento interno no trabalho feito a mão. Isso acontece porque o artesanal exige um grande envolvimento e responsabilidade pelo resultado final.

Diferentemente da cultura da produção industrial em série, em que cada pessoa (ou máquina) é responsável apenas por uma peça ou uma parte do processo – muitas vezes sem ter qualquer contato com o produto final –, na produção manual, o artesão envolve-se em todas as etapas. Portanto, ele tem mais consciência do impacto de suas decisões no resultado de sua criação.

Além disso, as decisões podem ser tomadas dentro de um leque amplo de oportunidades. Isso tem dois lados: um deles é a liberdade de escolher, exercer sua criatividade e autonomia; o outro, é a possibilidade de errar. Essa situação, vivenciada na construção de um objeto, reflete nossa realidade e nossas experiências diárias.

O que nos leva a pensar também sobre a importância de improvisar, recomeçar, aceitar os erros, comemorar vitórias e explorar diferentes opções em nossas vidas. Ao observar a capacidade que temos de consertar falhas, inventar, destruir e reconstruir, valorizamos – e compreendemos mais – nossos próprios processos internos.

O poder que temos em nossas mãos ao transformar materiais em objetos nos permite ser autores e atribuir significados ao que criamos, descobrindo quem somos e nossa capacidade de mudar a realidade ao nosso redor. Essa percepção é empoderadora, e uma grande ferramenta de desenvolvimento do ser humano.

A sustentabilidade em suas mãos

A conexão que fazemos com as matérias-primas durante o processo artesanal é importante para a adoção de atitudes sustentáveis, conscientes e menos prejudiciais para o planeta. O uso dos sentidos e o trabalho de construir alguma coisa torna o artesão cuidadoso com o que consome.

Com o aumento acelerado da presença virtual, é importante lembrar do mundo real. O ambiente digital tem inúmeras qualidades e vantagens, que podem (e devem) ser utilizadas para a evolução humana.

Entretanto, muitas vezes, fazemos compras online de grandes empresas e não sabemos nem mesmo a origem dos produtos, muito menos seu processo de produção e suas matérias-primas. Isso torna o consumo automático, o produto menos valorizado e a produção menos humana.

É muito mais fácil ignorar todo o processo de construção de um produto, quando, com um clique, tem-se o que se deseja na porta de sua casa. A participação direta e ativa na criação de um objeto faz com que as pessoas pensem melhor antes de comprar, trocar ou descartar seus produtos.

O Festival do Fazer

Nas oficinas do Festival do Fazer, procura-se destacar a importância de estar presente, consciente da sua participação no processo de produção, conectado com sua essência interna e com o universo.

Ao criar, o indivíduo acessa sua autenticidade e seu jeito de ser, suas forças e suas dificuldades, promovendo o autoconhecimento.

Além disso, as oficinas são uma excelente forma de interagir com outras pessoas, aprendendo e ensinando simultaneamente. O senso de comunidade é muito importante para qualquer um, e é um ponto importante a ser resgatado na sociedade atual.

No 1º Festival do Fazer, realizado em abril de 2017, em São Paulo, foram oferecidas diferentes oficinas, como: xilogravura, feltragem, cosméticos naturais, marcenaria, tapeçaria, cerâmica, encadernação, entre outras.

Que tal colocar, literalmente, a mão na massa? Vem aí, a 2ª edição do Festival do Fazer.

ARTESANAL - MANIFESTO

As mãos como ponte dos afetos de dentro para fora
dão forma ao pensamento, à singular expressão.

O artesanal mobiliza o que há de mais humano em nós:
imaginar, criar e fazer,
dar sentido às emoções, memórias, relações,
dar formas, cores, sabores, funções,
dar movimento e beleza.

Nosso ativismo artesanal acontece no “fazendo”:
no olhar sobre e para o mundo,
na escolha de como consumimos e ocupamos o mundo,
na valorização do pequeno, do local e do autoral,
no manejo do corpo com as ferramentas e os materiais,
no aprendizado com o erro, a repetição e o tempo do fazer,
no contato com a natureza e nossas raízes artesãs.

É no “fazendo” que nos colocamos
corajosamente em atrito com o nosso fazer;
é no “fazendo” que transformamos
as coisas, a nós mesmos e o mundo para,
aos poucos,
reacender a sabedoria que está dentro de nós,
de cada um de nós,
de nossa ancestralidade e
do que queremos criar com sentido neste mundo.

Por um mundo feito à mão, um mundo feito por nós!